“Em SP, metade das mortes no trânsito acontece por atropelamento” – UOL Notícias

 

Rosanne D’Agostino
Elisa Estronioli
Do UOL Notícias

Dois pedestres morrem atropelados por dia no trânsito da capital paulista, um índice que praticamente não se alterou nos últimos três anos: cerca de 1.500 pessoas morrem por ano no trânsito da cidade, metade delas, por atropelamento.

Nas vias onde ocorre o maior número de casos, flagrantes mostram que pedestres também são responsáveis por manter a estatística. Atravessam fora da faixa, esperam pelo sinal verde no meio de avenidas movimentadas e até correm no meio dos carros. Mas, a causa dos atropelamentos é somente a desatenção do pedestre?

"Eu corro porque, na maioria das vezes, o semáforo fecha enquanto eu ainda estou atravessando", reclama Eunice dos Santos, 37, que frequenta a avenida Paulista, uma das campeãs em casos de atropelamento na capital -53 casos (balanço mais recente da CET – 2007). "Eu já fiquei no meio da avenida várias vezes, prefiro aproveitar e correr mesmo com farol vermelho", diz.

Segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), de janeiro a outubro de 2008, 1.212 mortes. Das vítimas, quase metade eram pedestres, 569. Outras 202 eram motoristas ou passageiros, 386 eram motociclistas e 55 eram ciclistas.

Quando os atropelamentos acabam em morte, 70% estavam fora da faixa de segurança, enquanto apenas 12% dos pedestres optaram por usar a faixa. Já 11% estavam andando pela pista e 7% na calçada.

Para Luiza Yabiku, conselheira de segurança viária da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), ainda que o número de desatenciosos seja alto, a "culpa" não pode ser imputada exclusivamente aos pedestres. "Numa cidade como São Paulo, o que vale é todo um contexto urbano, a impaciência, tanto de pedestres como de motoristas, a falta de sinalização e o desrespeito às leis de trânsito", afirma.

Com relação aos pedestres, um dos problemas apontados pela especialista é a falta de sinalização específica. Ela cita como exemplo a Avenida dos Bandeirantes, onde é preciso caminhar um longo percurso de ida e volta para realizar a travessia pelo local adequado. "O pedestre também tem pressa e, muitas vezes, ele prefere se arriscar. Não há informações sobre a próxima passarela ou travessia e ainda há muito perigo de assalto", avalia.

Segundo Luiza, tanto em vias bem sinalizadas como a avenida Paulista, como em bairros, grandes causadores de atropelamentos são o desrespeito ao limite de velocidade e à sinalização existente. "Muitos motoristas ultrapassam o farol vermelho, enquanto pedestres aguardam em cima da faixa. O pior inimigo é a velocidade", completa.

Oswaldo Castro, 42, que há anos caminha diariamente pela Paulista, também aponta as calçadas como um problema, mas considera que houve melhora com a reforma mais recente. "As calçadas eram todas quebradas, era difícil andar aqui. Mas no meu bairro [Pompéia], eu tenho que andar na rua, porque a calçada lá é lamentável", completa.

Para andar em segurança, a conselheira recomenda que motoristas fiquem atentos aos limites de velocidade, principalmente em vias em que haja escolas, supermercados e grandes aglomerações. Para os pedestres, a dica é olhar antes de atravessar, respeitar a sinalização, usar a faixa de segurança e locais de travessia adequados. "A culpa não é do pedestre, mas o maior dano é o dele", conclui.

Campanha de conscientização

Em dezembro, a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) e a CET lançaram uma campanha para reduzir a violência do trânsito com três prioridades: educação, obras de melhoria e fiscalização.

Os pedestres são o principal alvo. Segundo a CET, grande parte desrespeita faixa de travessia e para sobre a faixa para esperar o semáforo. Motoristas também não aguardam a conclusão da travessia pelo pedestre.

A secretaria comprometeu-se a realizar a pintura e manutenção de faixas, trocar e instalar gradis nas vias e nos corredores de ônibus e melhorar a iluminação. Ainda não há balanço sobre o resultado dessas medidas, já que os dados relativos a 2008 não foram compilados.

Veja texto completo da reportagem

© 1996-2009 UOL – O melhor conteúdo. Todos os direitos reservados.

Veja indicadores de acidentes de trânsito do Observatório Cidadão

Compartilhe este artigo