Luanda Nera – repórter do Movimento no FSM 2009
Uma sociedade “ecossocialista”, que faça a convergência entre a defesa da ecologia e as causas dos movimentos sociais urbanos. Esse é, na opinião do cientista social Michael Lowy e do escritor e religioso dominicano Frei Betto, o modelo ideal (e necessário) para a vida no planeta. Eles participaram do Fórum Social Mundial, em Belém, a convite das redes brasileira e latinoamericana por Cidades Justas e Sustentáveis, e foram aplaudidos pela platéia que lotou um dos auditórios da Universidade Federal Rural.
Protagonistas do conceito de ecossocialismo, Betto e Lowy fizeram um emocionante relato da trajetória de dois grandes ativistas que atuaram na região amazônica – o seringueiro Chico Mendes (assassinado em 1988) e a irmã Dorothy Stang (assassinada em 2005) –, sempre traçando paralelos com as lutas que continuam no Brasil e no mundo. “O Chico Mendes continua a inspirar militantes em vários países. Era um pragmático, mas também um utopista”, resumiu Lowy. “A impunidade dos crimes do latifúndio e a falta de reforma agrária mataram a irmã Dorothy”, enfatizou Betto.
Fazendo uma ponte com o cenário atual, marcado pela crise financeira mundial e o conseqüente debate sobre os rumos do capitalismo, Betto e Lowy enfatizaram a necessidade de um modelo que assegure os direitos humanos acima de tudo e que promova uma transformação radical em nosso padrão de consumo. “As questões ecológicas exigem medidas radicais, é urgente uma mudança no nosso padrão de civilização. O ecossocialismo é a corrente que luta pela defesa da natureza, da vida e por uma sociedade baseada em valores”, afirmou Lowy.
Para Betto, a construção de cidades sustentáveis (ou ecossocialistas) exige práticas concretas, como o Movimento Nossa São Paulo e os demais que já se formaram em outros municípios brasileiros e latinoamericanos. O religioso também descreveu os quatro valores sobre os quais o conceito de ecossocialismo se apoia: visão crítica do neoliberalismo, organização da esperança, resgate da utopia e elaboração de projetos alternativos. “A luta pelo ecossocialismo começa aqui e agora, na defesa do desmatamento zero na Amazônia, no fortalecimento da rede de cidades justas e sustentáveis”, concluiu Frei Betto. “A consciência é o que nos leva à ação. E é neste sentido que precisamos trabalhar juntos para que seja possível repensar nossas cidades”, completou Michael Lowy.