Desde 1992, US$ 3 bilhões já foram investidos na despoluição, mas a Sabesp prevê que limpeza total não vai ocorrer em menos de 9 anos . Apesar de obras, municípios não tratam esgoto e há muitas ligações clandestinas na capital
Daniel Gonzales e Mariana Londres
Pelo menos até 2018, a despoluição do Rio Tietê no trecho urbano da capital e da Grande São Paulo continuará só no sonho dos paulistanos e na promessa das autoridades. A perspectiva é resultado dos avanços percebidos até agora, passados 18 anos do início do projeto de limpeza do rio, com seis governadores já tendo ocupado o comando do Estado e US$ 3 bilhões investidos em obras desde 1992. O Projeto Tietê está agora prestes a abrir a terceira fase de obras com a antiga meta de descontaminação, alardeada nos anos 90 e hoje fora de cogitação por pelo menos mais nove anos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), gestora do projeto.
Desde o início do programa, os ganhos no controle da poluição do Tietê ainda não são visíveis aos moradores da capital. Isso é possível somente no interior, onde o manto de sujeira que cobria o rio recuou 160 km. “Mas a situação já melhorou, e muito”, aponta Carlos Eduardo Carrela, superintendente de projetos da Sabesp. Em relação a 1991, o rio deixa de receber hoje, por dia, 1,3 bilhão de litros de esgoto puro, que são descontaminados nas cinco estações de tratamento de esgoto (ETEs) em operação. O volume tratado é de 550 piscinas olímpicas a cada 24 horas, ou 16 mil litros por segundo.
O programa só não avançou mais porque ainda há um grande volume de despejo de esgoto irregular no Tietê – são imóveis ligados à rede de águas pluviais, que só deveria captar água de chuva – e porque oito cidades da Grande São Paulo não fazem parte da área de atuação da Sabesp e seus esgotos são, apenas em pequena parte, recebidos pela companhia para tratamento.
Os esgotos de Guarulhos, cidade que hoje não trata os dejetos, são despejados no Cabuçu de Cima, afluente do Tietê, e só a partir deste ano começarão a ser destinados a cinco pequenas estações, que serão construídas com R$ 249 milhões obtidos pela cidade pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. A meta é descontaminar 70% do volume de esgoto nos próximos 4 anos. Em outros casos, a Sabesp levou a rede coletora até a porta das casas, mas os proprietários resistem às ligações por causa do aumento na conta de água. Na capital foram identificadas mais de 18 mil ligações irregulares apenas em outubro do ano passado. “O Projeto Tietê está muito além do Rio Tietê”, diz Carrela.
O objetivo do pacotão de obras da terceira fase, que prevê investimentos de mais US$ 800 milhões (US$ 600 milhões emprestados do Banco Interamericano de Desenvolvimento e o restante, recursos próprios da Sabesp), é aumentar os índices de coleta e tratamento de esgoto na capital e em 31 municípios onde a Sabesp opera. Transportar e tratar o esgoto de tão longe é fundamental porque o Tietê recebe, direta ou indiretamente, o deságue de 165 córregos e rios que correm na capital e cidades da Grande São Paulo.
Na fase 3, a empresa vai investir na ampliação de um complexo sistema de coletores e interceptores subterrâneos para fazer os dejetos de bairros da capital e de 31 cidades da região metropolitana “viajarem” até as estações de tratamento. Com isso, a empresa pretende saltar dos atuais 84% de esgoto coletado na Grande São Paulo e destes 68% tratados para 87% e 84% em 2015, chegando a 100% de coleta e tratamento em 2018.
O esforço para a retirada total do esgoto, no entanto, está longe de significar que o rio estará despoluído, segundo ambientalistas e especialistas em recursos hídricos. “Nem em 2040”, prevê Maria Lucia Ribeiro, coordenadora da ONG SOS Mata Atlântica. Mauricio Waldman, doutor em Geografia pela USP, diz que todo o lixo atirado nas ruas também vai parar no Tietê, a chamada poluição difusa. “O rio não vai voltar, nunca mais, a ser o que era.”
CONTOS DE PESCADOR
Em 1992, o governador Luiz Antônio Fleury Filho declarou que o Rio Tietê estaria limpo em 15 anos, ou seja, em 2007
Em 1998, no fim da 1ª etapa, a promessa era que o Tietê estaria limpo na capital em 2018
Em 2004, o secretário estadual de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento, Mauro Arce, disse que o Tietê poderia voltar a ter peixes no trecho que corta São Paulo até 2010
HISTÓRIA DO RIO
1628 – 1ª expedição pelo rio
1888 – fundação do Clube Esperia
1900 – é usado como fonte de energia e transporte de esgoto
1972 – má qualidade da água leva à proibição da prática de esportes
1990 – nascente é tombada
1992 – mobilização social, seguida de abaixo-assinado com mais de 1 milhão de assinaturas, por iniciativa da Rádio Eldorado, do JT e da SOS Mata Atlântica, dá origem ao Projeto Tietê de despoluição do rio
1998 – fim da 1ª fase do projeto 2002 – início da 2ª fase