“SP improvisa para acabar com o turno da fome” – O Estado de S.Paulo


Alunos de pelo menos 10 escolas estaduais terão aula em sala de emergência; pais e jovens protestam

Fábio Mazzitelli e Marici Capitelli, JORNAL DA TARDE

Para acabar com o "turno da fome", período de aulas das 11 às 15 horas, o governo paulista apelou para salas de emergência. E pelo menos dez escolas estaduais ergueram estruturas de madeira para abrir classes em espaços improvisados. São salas de aula em laboratório de ciências, pátios ou quadras poliesportivas. Em alguns locais, obras estão em andamento e os estudantes ficam apenas duas horas por dia no colégio, em rodízio ou em espaços com até 70 alunos, como na escola Francisco Mourão, zona sul da capital.

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Neste ano, segundo o coordenador de ensino da Grande São Paulo, José Benedito de Oliveira, a rede estadual terá de "20 a 21" escolas com o turno da fome, todas na região metropolitana. Em 2008, havia 53 escolas com o turno da fome, limite que o governador José Serra pediu no fim do ano que fosse reduzido para 30. Segundo Oliveira, "reduzimos para 20, 21… Pegamos espaços sem uso e transformamos em sala de aula e criamos salas de emergência. Fizemos as mudanças baseadas em obras e transporte escolar".

Em relação ao transporte escolar gratuito, a redução do turno intermediário causou aumento no número de estudantes atendidos na rede: de 435 mil alunos em 2008 para cerca de 500 mil neste ano. Destes, 21 mil serão transportados porque foram transferidos para unidades distantes.

DESTRUIÇÃO

Na Escola Estadual Ayres Neto, em Pedreira, zona sul da capital, parte foi demolida para a construção de quatro salas de madeira, que abrigarão cerca de 700 crianças de outro colégio. Na unidade já estudam 2 mil alunos. A Ayres Neto terá de destruir uma quadra esportiva, limitar a cantina e cimentar o laboratório de ciências. Segundo a comunidade, a construção das salas de madeira vai acabar com o pátio dos alunos.

"Não tem cabimento destruir o que está pronto, acabar com o conforto dos alunos e trazer outros para ficarem espremidos", diz Rozinete Muniz de Souza, de 50 anos, mãe de uma aluna do ensino médio. Segundo o professor Pedro Paulo Vieira de Carvalho, diretor da Apeoesp (sindicato dos professores), a obra foi decidida sem que pais, alunos e docentes fossem consultados. "É a destruição de uma escola para abrigar outra", reclama.

Pais e estudantes da Ayres Neto organizaram ontem duas manifestações na porta do colégio na tentativa de impedir que a demolição continue. Caso contrário, ameaçam bloquear a entrada de operários a partir de hoje e apelar à Justiça. Parte da revolta é porque o colégio fica aberto aos fins de semana para o Programa Escola da Família, atividades que ficariam limitadas com as classes de madeira na quadra.

O acordo para a transferência dos alunos foi assinado entre os diretores das duas escolas e a diretoria regional de ensino. De acordo com o documento, as quatro salas provisórias serão instaladas de abril a junho. Em julho, serão erguidas mais oito salas e todos os alunos da Francisco Mourão serão alojados na Ayres Neto. Eles ficarão lá até o final da construção da primeira escola, em junho de 2010. O acordo prevê ainda que "a E.E. Ayres Neto ficará sem a quadra por um ano e meio".

OUTRO LADO

A Secretaria Estadual da Educação informou, em nota oficial, que a transferência de alunos da Francisco Mourão para a Ayres Neto foi feita após reunião com os pais no fim de 2008, registrada em ata. Segundo a pasta, o novo prédio terá o dobro da capacidade atual de atendimento da Francisco Alves Mourão e "nenhum dos alunos da Ayres Neto está sendo prejudicado com a construção das salas que abrigarão os colegas da outra escola". "É impossível construir uma nova escola no período de férias", diz a nota.

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