Governador afirma que só 0,1% das escolas tiveram de instalar salas com madeirite e que noticiário é desproporcional
Estado determinou a construção de ao menos 40 salas de aula feitas com compensados a fim de ampliar o número de vagas
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador José Serra (PSDB) afirmou ontem que o problema de dez escolas estaduais que possuem salas de aula improvisadas -construídas com madeirite em pátios e quadras esportivas- é "muito residual e pequeno". Ele classificou o assunto como "um problema de prioridade jornalística".
Na última terça-feira a Folha revelou que o Estado determinou a construção de ao menos 40 salas de aula feitas com compensados, um tipo de madeira prensada usado para cercar locais de obras, a fim de aumentar o número de vagas em dez escolas públicas.
Um dos problemas das salas feitas com compensados pode ser o isolamento acústico, pois os ambientes serão usados por turmas geralmente barulhentas, de alunos com idades entre sete e dez anos.
"O noticiário está dando um espaço imenso a um problema que do ponto de vista quantitativo é pequeno, embora seja um problema que ao meu ver cabe resolver", disse Serra.
Ele estava na Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas, na zona norte, onde participou de um evento para anunciar a liberação de R$ 13,4 milhões para investimento em saúde para 523 cidades.
Serra afirmou também que hoje há 40 salas de aula feitas de madeirite em um universo de 70 mil salas convencionais em todo o Estado.
Serra também criticou o fato de a imprensa ter dado destaque à questão das salas de aula de madeirite em vez de priorizar uma cerimônia à qual ele compareceu anteontem, na qual oito hospitais foram premiados por realizar transplantes de órgãos e tecidos.
"Alguns grandes jornais de São Paulo não deram uma linha a respeito da questão dos transplantes e dedicam páginas a esse assunto que envolve menos de 0,1% das escolas."
Ao encerrar a entrevista coletiva, Serra afirmou: "Uma repórter da Folha diz que procurou a Secretaria da Educação e mentiu, porque não procurou. E aí vai fazendo a onda, para você saber, essa tal de Capriglione, ela mentiu que procurou a secretaria e que não houve resposta".
A repórter Laura Capriglione telefonou às 22h de anteontem para a assessoria de imprensa da Secretaria da Educação. Naquele momento, acompanhava os momentos finais de um protesto realizado por cerca de mil pais, alunos e funcionários da Escola Estadual Ayres Neto contra a construção das salas com compensados.
Na reunião foi decidido que professores, alunos e pais impedirão a entrada de operários e tratores na escola, uma vez que a construção das salas de madeirite implica a derrubada da cozinha, de um banheiro, de laboratórios e da cantina.
Ao telefonar para a secretaria, a repórter não conseguiu falar com nenhum funcionário do órgão e a secretária eletrônica da assessoria de imprensa não mencionava um telefone de emergência para contato.