“País produz 18 bilhões de sacolas plásticas – o Estado de S.Paulo

De cada 10 unidades, 8 vão para aterros; pouco estudada, tecnologia alternativa divide opinião

Paulo Pinto

Antônia Emydio quer mudar o hábito das sacolas plásticas
SÃO PAULO – O Brasil produziu cerca de 18 bilhões de sacolas plásticas em 2007, a maioria fabricada com polietileno – produto derivado do petróleo que demora aproximadamente 500 anos para se decompor. Mais de 1 bilhão de sacolas são distribuídas todo mês pelos supermercados; 80% delas viram sacos de lixo doméstico e vão parar em aterros sanitários. Para tentar minimizar esse impacto, têm surgido no mercado campanhas com o objetivo de reduzir o uso das sacolas de plástico ou substituí-las por material oxibiodegradável, biodegradável e até retornável.

Não há, no entanto, consenso entre especialistas e pesquisadores sobre qual seria a melhor solução, seja por falta de estudos científicos conclusivos ou pela concorrência da indústria plástica, que, só em 2007, movimentou US$ 18,7 bilhões.

Apresentadas como "totalmente degradáveis" pelos fabricantes, as sacolas oxibiodegradáveis, por exemplo, dividem opiniões sobre as possíveis consequências de seu descarte. Feitas com a mesma matéria-prima das plásticas, elas recebem um aditivo pró-oxidante com sais metálicos, que acelera a degradação. Segundo a RES Brasil, distribuidora de um dos aditivos (o d2w) no País, a degradação ocorre em 18 meses. Há especialistas que contestam o benefício, alegando que os aditivos também poluem. "A realidade é que as sacolas plásticas quase nunca são recicladas devido ao seu baixo valor agregado", afirma o presidente da RES Brasil, Eduardo Van Roost.

Representante da cadeia produtiva do setor plástico, a Plastivida critica o uso dos oxibiodegradáveis. "Mesmo os biodegradáveis precisam ser coletados e ter condições adequadas para se decompor", diz o presidente da entidade, Francisco de Assis Esmeraldo, que defende a reciclagem. "Um quilo de plástico equivale a um litro de diesel. Esse potencial não deveria ser desperdiçado."

Em estudo publicado no mês passado na revista Polymer Engineering and Science, o professor Guilhermino Fechine, do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Mackenzie, contesta a tese de degradação completa dos plásticos com aditivo. Ele comparou amostras de polipropileno, uma delas com pró-oxidante, com o plástico biodegradável. As amostras foram submetidas à radiação ultravioleta por 480 horas e, depois, enterradas no solo por 56 dias. Segundo Fechine, o oxibiodegradável se fragmentou, mas não totalmente. Em contrapartida, o engenheiro químico Telmo Ojeda testou os oxibiodegradáveis e obteve resultado favorável ao material. Ojeda usou critérios diferentes dos de Fechine, inclusive com exposição natural do produto por 12 meses. Para a especialista Lucia Mei, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o tema requer mais pesquisa. "Recomendaria mais estudos para termos estatísticas sobre sua decomposição final na natureza."

Produzidas com derivados do amido ou da cana-de-açúcar, as sacolas biodegradáveis demoram, em média, um ano para se decompor totalmente na natureza, mas ainda não são fabricadas em escala comercial no Brasil. "As propriedades mecânicas desses polímeros e o custo dificultam a produção do plástico filme, usado para fazer esse tipo de sacola", diz o professor Antônio Aprígio, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos.

Outra opção verde é o polietileno à base de cana, já produzido no País. Ele não é biodegradável e também custa mais caro, mas sua fonte é renovável. O diretor do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Helio Mattar, considera as sacolas retornáveis – de pano ou plástico mais resistente – como a melhor solução para substituir as de plástico. "Com sacolas duráveis, o consumidor contribui para diminuir o lixo e evita que se gaste energia e recursos naturais na produção de sacolas descartáveis", diz.

O brasileiro consome cerca de 66 sacolas plásticas por mês. Nessa estatística entram pessoas como a motorista Antônia Emydio de Souza, que saiu de um supermercado da zona oeste de São Paulo com o carrinho cheio de sacolinhas. "Foi o que me ofereceram. Sou contra essa embalagem, mas temos esse comodismo." O funcionário público Jair Martins, que fez compras no mesmo local, utilizou sacolas de papelão. "É a primeira vez que me oferecem essas sacolas. O ideal é que fossem oferecidas sempre, mas certamente isso se refletiria no preço."

 

Compartilhe este artigo