“Poluição de carros quadruplica risco de morte” – Folha de S.Paulo

 

Na região metropolitana de SP, chance de morrer de doença cardiorrespiratória é de 10,9%; sem as emissões veiculares, cairia a 2,4%

Em 2004, poluição matava, indiretamente, 12 pessoas por dia na região; ar de SP é mais "pesado" que o limite máximo tolerável pela OMS

RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL

A poluição provocada pelos veículos mata indiretamente, em média, quase 20 pessoas por dia na região metropolitana de São Paulo, segundo estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP. É quase o dobro do que há cinco anos, quando a média era de 12 mortes por dia por doenças cardiorrespiratórias "aceleradas" pela poluição.

Segundo o estudo, baseado em parâmetros da Organização Mundial da Saúde, a chance de uma pessoa morrer de doença cardiorrespiratória nos 39 municípios da região é atualmente de 10,9%. Sem as emissões veiculares, cairia para 2,4%.

Nos atuais padrões, o ar da região mata indiretamente, por ano, 7.187 pessoas a partir dos 40 anos (grupo de maior vulnerabilidade). São 65% a mais que em 2004, ano da última pesquisa. As principais doenças agravadas são infarto, acidente vascular cerebral, pneumonia, asma e câncer de pulmão.

O estudo estima que a poluição seja responsável também por 13,1 mil internações por ano, com custos de R$ 334 milhões -25% pagos pelo SUS. Crianças de até quatro anos e adultos com mais de 60, com cerca de 5.000 internações cada grupo, são os mais afetados. Os dados do SUS são de 2008.

O ar de SP é quase três vezes mais "pesado" que o limite tolerável pela OMS. A concentração média diária de material particulado inalável (partículas mais nocivas, que chegam aos pulmões e causam doenças) é de 28 microgramas por metro cúbico, 18 a mais que o definido como tolerável pela OMS.

Em janeiro, um estudo publicado no "New England Journal of Medicine" apontava que a redução da quantidade de partículas poluentes emitidas no ar aumenta a expectativa de vida. Os pesquisadores avaliaram dados populacionais de 51 áreas metropolitanas dos EUA de 1978 a 1982 e de 1997 a 2001. E constataram que o decréscimo de dez microgramas por metro cúbico de partículas poluentes finas estava associado a um aumento médio de sete meses na expectativa de vida.

Frota maior

A qualidade do ar na região metropolitana de SP era um pouco melhor em 2004. Coordenador do estudo -contratado pelo Ministério da Saúde e ainda não divulgado oficialmente-, o professor Paulo Saldiva diz que houve piora, causada principalmente pelo crescimento da frota de veículos.

Hoje, eles são 9 milhões, um terço a mais que em 2004 -6,3 milhões só na capital. Eles são responsáveis por 50% do material particulado do ar, o maior percentual entre seis capitais brasileiras pesquisadas. A região metropolitana de SP tem 19,6 milhões de habitantes.

A frota a diesel (caminhões, ônibus e utilitários), que na cidade representa 15% do total, é a que mais polui. Entretanto, o aumento do número de motos e carros não deve ser desprezado, diz o professor da USP Américo Kehr, coautor do estudo. "Como a frota de veículos de passeio é muito maior, eles dão uma contribuição grande para a quantidade de particulado."

Para Kehr, a principal razão do aumento da mortalidade causada pela poluição veicular é "uma política de mobilidade estruturada no transporte individual [de pessoas] e no transporte rodoviário de cargas".

O estudo foi usado pelo Ministério Público paulista para embasar ação ajuizada na segunda contra Petrobras e montadoras pelo não cumprimento de resolução federal que previa, desde 2002, o fornecimento de diesel e motores menos poluentes a partir deste ano.

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