Um terço do ano apresentou índices alarmantes de poluentes
Fernanda Aranda, JORNAL DA TARDE
Dos 366 dias do ano passado (bissexto), apenas 41 tiveram qualidade do ar considerada totalmente boa na Região Metropolitana de São Paulo. No restante de 2008, 89% dos dias, ao menos uma das 22 estações de medição da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb) registrou concentração de poluentes acima do limite seguro para a saúde, o que indica exposição a doenças graves como enfarte, derrame, diabetes e infertilidade.
Para chegar ao diagnóstico, a reportagem analisou os boletins diários de qualidade do ar de 2008 disponíveis no site da Cetesb. Foram acumuladas 8.344 medições. Um terço (35,84%) apresentou índices alarmantes para monóxido de carbono, partículas inaláveis e ozônio (O3).
O O3, um dos poluentes mais nocivos, é mais frequente em dias quentes, como os desta semana, afirma o engenheiro ambiental Alfred Szwarc. A formação do gás se dá a partir do encontro de hidrocarbonetos com óxido de nitrogênio, união facilitada pela alta temperatura. "O ozônio é difícil de ser combatido", diz o engenheiro.
Especialistas fazem coro ao citar que os veículos são os grandes responsáveis pela má qualidade do ar. Prova disso é que dos 41 dias totalmente bons, 17 ocorreram em sábados ou domingos, dias em que a circulação de carros diminui. Além disso, 10 destes dias estão concentrados em janeiro, mês de férias, em que a frota cai 40%.
MORTES
Pesquisas mostram que doenças agravadas pela poluição matam 20 pessoas por dia na Grande São Paulo. "Já temos prova de que a exposição à poluição piora doenças respiratórias, cardiovasculares e dos sistemas reprodutivo e endócrino", afirma o pediatra Alfésio Braga, da Universidade Santo Amaro. "Outras investigações estão em curso, como a relação dos poluentes e a diminuição da capacidade cognitiva."
A cada novo estudo, o inventário das doenças relacionadas aos poluentes tem novo integrante. Nas contas do Laboratório de Poluição da USP, em 2000, eram oito mortes diárias, número que cresceu para 12 em 2006 e chegou às 20 atuais. "Infelizmente, a saúde ainda não é balizador das políticas públicas", afirma o coordenador do laboratório, Paulo Saldiva.
Saldiva diz que atestar que, em um ano, menos de dois meses tiveram a qualidade do ar aprovada por todas as estações é ainda mais preocupante diante dos padrões de qualidade adotados pela Cetesb. "Este padrão é extremamente permissivo. Até quando o ar é considerado bom faz mal à saúde", diz.
NÚMEROS
325 dias
tiveram pelo menos uma estação com qualidade do ar ruim em São Paulo
41 dias
tiveram medição totalmente boa
89% do ano
registrou qualidade do ar regular, inadequada ou ruim
8.344 medições
foram feitas e um terço (35,84%) apresentou índices alarmantes para monóxido de carbono, partículas inaláveis e ozônio, conforme a Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental
10 mg/m3
é o padrão de emissão de poluentes considerado máximo pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em São Paulo, alcançou-se
30 mg/m3; no Rio, 24 mg/m3; em Porto Alegre: 22 mg/m3; em Belo Horizonte: 22 mg/m3; em Curitiba: 20 mg/m3 e no Recife: 13 mg/m3
COLABOROU FÁBIO MAZZITELLI