Parceria sobre Aquífero Guarani ilustra tema central do Fórum da Água
Lucas Frasão, especial para o Estado
SÃO PAULO – Representantes do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina se reúnem no próximo mês para discutir novos rumos de um projeto voltado para o Aquífero Guarani – uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo. Com uma área de 1,2 milhão de km2, o aquífero tem um volume estimado de 45 milhões de litros.
Os quatro países finalizaram no mês passado a primeira fase de um estudo integrado sobre a região, concebido em 2000. Com financiamento de US$ 13,4 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente, o Projeto para a Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aquífero Guarani fez um novo mapeamento da região, identificando, por exemplo, nascentes e pontos de poluição.
A partir de agora, o projeto poderá ser transformado em um tratado novo ou ser incorporado a outros já existentes, como o do Mercosul ou o Tratado da Bacia do Prata.
"O conceito central do estudo é a troca permanente de informações para aprofundar o conhecimento técnico sobre o Aquífero Guarani", diz Vicente Andreu Guillo, coordenador do projeto no Brasil e secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente. "Mesmo assim, é comum dizer que o aquífero é mais famoso do que conhecido. O acervo é crescente, mas ainda insuficiente."
Segundo Guillo, Brasil e Argentina já se comprometeram a desembolsar US$ 90 mil, cada um, para o projeto. Uma sede permanente foi montada em Montevidéu, no Uruguai.
Debate
A gestão de recursos hídricos em regiões de fronteira também é o tema central do 5º Fórum Mundial da Água, que termina hoje, data em que também é celebrado o Dia Mundial da Água.
O encontro, realizado a cada três anos, foi o mais expressivo desde o primeiro, no Marrocos, em 1997. Realizado em Istambul, na Turquia, o evento deste ano reuniu cerca de 27 mil participantes de 182 países, segundo a organização. Apenas a delegação brasileira tem cerca de 150 especialistas e políticos, a maior comitiva da América Latina.
Riqueza compartilhada
O interesse brasileiro é explicado pelos números. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), o País tem 12% de toda a água doce do mundo e 56,9% da água superficial disponível na América do Sul. Boa parte é compartilhada com vizinhos.
Um dos exemplos brasileiros de gestão de recursos hídricos é exatamente o Aquífero Guarani.
O Brasil ainda tem em seu território a maior parte da Bacia Amazônica, compartilhada com mais seis vizinhos latinos e gerida pelo Tratado de Cooperação Amazônica. Outra importante bacia hidrográfica, a do Rio da Prata, tem acordos firmados desde a década de 1970.
Mundo
Segundo levantamento feito pela organização do Fórum Mundial da Água, há no mundo 274 aquíferos que se espalham pelos subterrâneos de nações limítrofes. Da mesma forma, foram identificadas 263 bacias hidrográficas em regiões de fronteira.
Isso significa que pelo menos 75% de todos os países dividem rios com algum vizinho. Números que ajudam a identificar o tamanho do problema no caso de guerras por causa da água.
Historicamente, porém, são poucos os conflitos gerados pela falta d’água. Nos últimos 60 anos, foram reportados mais de 300 acordos, contra 37 casos de violência.
Mas outros números indicam que essas estatísticas poderão piorar no próximo centenário. Até 2075 estima-se que entre 3 bilhões e 7 bilhões de pessoas habitarão regiões com falta crônica de água. Essa população deve estar espalhada por até 60 países.
Atualmente, 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. Os dados são da ONU, do Instituto Internacional de Água de Estocolmo e da Water Partners International.
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