“Poucos aprendem na melhor região” – O Estado de S.Paulo

 

Mesmo em escolas da área da capital mais bem avaliada no Idesp, maioria dos alunos não sabe conteúdo da série

Renata Cafardo, Simone Iwasso e Sergio Pompeu

Mesmo estudando na região mais bem avaliada da cidade de São Paulo – a centro-oeste – e tendo melhorado o desempenho de um ano para outro, a maioria dos

alunos de escolas estaduais de bairros como Vila Mariana, Morumbi e Lapa não domina o conteúdo da série em que está. Isso quer dizer que muitos da 4ª série

não conseguem transformar metros em centímetros nem localizam informações explícitas em uma reportagem. No 3º ano do ensino médio, eles não resolvem equação

de segundo grau.

Os piores resultados, tanto no ensino fundamental quanto no médio, aparecem em matemática. Todas as escolas da região centro-oeste têm mais da metade dos

alunos da 8ª série e do 3º ano do ensino médio sabendo menos do que deveriam, ou seja, estão nos níveis "básico" e "abaixo do básico". Neste último, eles

não conseguem, por exemplo, fazer conta que envolva multiplicação e adição.

Em 2007, 40% dos alunos da 4ª série tinham conhecimentos abaixo do básico. Em 2008, o índice melhorou: 30% nesse nível. O Estado tabulou os dados do

desempenho dos alunos nas provas de português e matemática dessa região, a que teve melhor Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) na

capital. A conclusão foi que, mesmo melhorando as notas de 2007 para 2008, em quase todas as escolas só uma minoria chega hoje a níveis considerados

adequados de aprendizagem.

"É preciso levar em conta que as mudanças na educação são de médio e longo prazo", pondera a educadora Silvia Colello, da Faculdade de Educação da

Universidade de São Paulo (USP). "As ações adotadas nos últimos tempos terão reflexos apenas nos próximos anos. O que estamos vendo ainda é resultado de

anos de problemas acumulados", explica. Para a educadora, os resultados dos próximos anos tendem a melhorar, com a formação de novas turmas.

COMPETÊNCIAS

No 3º ano do médio, o índice máximo de alunos no nível avançado aparece na escola Alberto Torres. Cerca de 11% deles conseguiriam perceber metáforas em um

poema, por exemplo (mais informações nesta pág.). Em 7 das 38 escolas de ensino médio da região não há nenhum estudante nos níveis adequado e avançado.

Na 8ª série, a escola Professora Paula Vizibeli Piero não tem nenhum aluno com conhecimento adequado em matemática. Eles não subtraem centenas nem localizam

objetos em um mapa. Em língua portuguesa, apenas 12% deles estão no nível satisfatório e avançado.

A 4ª série tem os melhores índices, mas também concentra a maioria de seus alunos nos piores níveis. A Escola de Aplicação, mantida pela Universidade de São

Paulo, tem 31% dos estudantes no nível avançado em português, um recorde entre todas as séries. Essas crianças, aos 10 anos, reconhecem o efeito do uso do

ponto de exclamação em um texto. A região centro-oeste – assim como as outras 12 da capital – inclui ainda bairros como Alto de Pinheiros, Itaim Bibi e Vila

Madalena. O Idesp médio das cerca de 80 escolas foi o maior nos três ciclos.

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