“28% dos alunos não entendem o que leem” – Jornal da Tarde

 


Apesar da melhora no índice de qualidade da educação estadual, 25,4 mil dos 92 mil estudantes da 4ª série concluíram ciclo de ensino em 2008 sem saber o básico de língua portuguesa

Fábio Mazzitelli e Vitor Sorano

Um em cada quatro alunos de 4ª série das escolas estaduais da capital pode até conseguir ler este texto, mas não entenderá o conteúdo dele nem o gráfico desta página. Cerca de 25,4 mil dos 92 mil alunos, ou 28%, avaliados no Saresp – prova anual da rede estadual de ensino – chegaram ao final do primeiro ciclo do ensino fundamental sem atingir o nível básico de aprendizagem em língua portuguesa. Em matemática, são 37 mil nessa situação, ou 40%.

Ontem, foi anunciada a troca de comando da Secretaria Estadual da Educação. O ex-ministro Paulo Renato Souza (PSDB) substituirá Maria Helena Guimarães de Castro.

O Jornal da Tarde tabulou os boletins do Saresp de 2008 das escolas estaduais da capital que oferecem a 4ª série. Foram computados os dados de 575 unidades. Oito foram desconsideradas porque o número dos alunos avaliados não foi informado. Esse nível de ensino foi escolhido porque é a etapa de alfabetização dos estudantes, que terão mais sete anos para completar o ensino básico.

O exame possui quatro conceitos: abaixo do básico, básico, adequado e avançado. Só nos dois últimos o aluno aprendeu o que deveria para série.

Dos estudantes de 4ª série da capital, segundo o Saresp de 2008, estão nos níveis desejados de conhecimento (adequado e avançado) só 31% em língua portuguesa, um recuo em comparação a 2007, e 22% em matemática, um avanço em relação ao ano anterior.

Em todas as 13 diretorias de ensino da cidade, a maioria ficou entre abaixo do básico e básico nas duas matérias. Ou seja, menos da metade aprendeu o conteúdo essencial ao final da 4ª série. Os piores desempenhos são de alunos do extremo leste da cidade.

“O ideal é que ninguém fique abaixo do básico, que é um nível que representa que o aluno não aprendeu”, afirma Naercio Aquino Menezes, professor do Ibmec de São Paulo e um dos que ajudou a criar o novo modelo do Saresp – criado nos anos 1990, o exame estadual passou por vários formatos até ser reformulado em 2007.

No abaixo do básico em português, significa que o aluno não entende os efeitos da pontuação em um texto nem reconhece o tema de um boletim informativo simples. O mesmo nível de matemática indica que o estudante não sabe ver horas em um relógio nem diz o que é direita ou esquerda em relação ao próprio corpo.

Para Francisco Soares, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais que também ajudou a formatar o Saresp, o ideal é que as escolas atingissem uma distribuição mais próxima ao modelo dos colégios de ensino básico dos Estados Unidos, nos quais há apenas 5% no último nível de desempenho na escala. Para os pesquisadores, outra referência possível é o estágio atual das escolas privadas do Sudeste do Brasil, em que há 9% abaixo do básico.

A Secretaria Estadual da Educação não contestou os dados, mas diz que o ensino está melhorando. A pasta promete divulgar o resultado total do Saresp em abril. Fizeram a prova alunos de 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries do fundamental e 3º ano do ensino médio da rede estadual, nas disciplinas de português, matemática e ciências.

 

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