Diferença de índice de qualidade chega a 86% entre as regiões da capital com maior e menor taxa de ausência
Renata Cafardo
O progresso escolar e o desempenho em avaliações dos alunos da rede estadual de ensino na capital estão diretamente ligados às faltas dos professores. Cruzamento de dados feito pelo Estado mostra que as cinco regiões da cidade com as menores taxas de absenteísmo dos docentes são também as que tiveram os maiores Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp). A diferença no índice entre uma área com muitas faltas e outra com poucas chega a 86%.
Veja especial sobre o desempenho dos alunos da rede pública de SP
Educadores afirmam que a ausência ocasional do professor enfraquece a relação com o aluno e atrapalha a aplicação do projeto pedagógico. Muitas vezes, não há sequer docente substituto e as crianças são dispensadas das aulas. "Se o professor não está, a aula não acontece. Um substituto não tem a mesma relação com os alunos", diz a diretora executiva da Fundação Lemann, Ilona Becskeházy.
Apesar disso, muitos consideram que escolas com condições já precárias de estrutura e em áreas violentas ou distantes também desmotivam o professor e contribuem para aumentar as faltas. "O adoecimento do professor não é por acaso. Quando ele trabalha em condições precárias, fica mais frágil",diz a presidente do sindicato dos professores (Apeoesp), Maria Izabel Noronha. Ela explica que há escolas tão distantes que o docente gasta grande parte do salário para se deslocar e acaba desestimulado. "Quando dá aulas em vários lugares, a opção de falta do professor acaba sendo sempre a escola que, na verdade, precisa mais dele."
NOVA LEI
Os números do cruzamento se referem aos meses de julho a dezembro de 2008, quando o total de faltas justificadas por atestado médico na capital foi de 36.854 – média de 302 ausências por dia. Desde maio de 2008, o número vem caindo porque o governo impôs um máximo de seis ausências médicas por ano para que não haja desconto de salário. No entanto, mesmo dentro do limite, as faltas são abatidas do bônus, pago pela primeira vez no mês passado e que pode representar acréscimo de até 20% no salário anual. O professor pode apresentar atestado de qualquer profissional com registro no conselho de medicina.
Escolas da zona leste, em bairros como Ermelino Matarazzo e São Miguel, têm os mais altos índices de ausência e os piores resultados dos alunos. Elas registraram mais que o dobro de faltas (cerca de 4 mil) do que as do centro-oeste e centro, onde ficam Vila Mariana, Consolação e Alto de Pinheiros. O Idesp no ensino médio, por exemplo, é de 2,29 na região centro-oeste e de 1,23 na leste 2 – ou seja, 86% maior. As outras três regiões com menores índices de faltas e maior Idesp são centro-sul, norte 2 e leste 5. A capital é dividida pela secretaria da educação em 13 regiões.
O Idesp varia de 1 a 10 e é formado pelo desempenho dos alunos em provas de português e matemática aplicadas pelo governo. O cálculo leva em conta também a quantidade de alunos na série correta para a idade. Os resultados de 2008 foram divulgados mês passado e mostram que a média no Estado não chega a 4. Há um Idesp para o ensino médio, outro para 5ª a 8ª série e outro para 1ª a 4ª.
Ex-secretário da Educação de Pernambuco e hoje presidente executivo do movimento Todos Pela Educação, Mozart Neves Ramos estranha o fato de algumas regiões terem números muito superiores de professores que faltam por problema de saúde. "Deveria haver avaliação médica mais criteriosa. Já vi professor com atestado na rede pública, mas trabalhando na rede privada, porque poderia ser demitido se faltasse." Para Ilona, há docente que faz trabalhos esporádicos em outros lugares e não se importa em faltar mesmo tendo descontos.
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