“Nenhuma escola de ensino médio atinge meta em SP” – Folha de S.Paulo

 

Só dez unidades de 4ª série na capital paulista obtiveram nota considerada adequada

Dados do Saresp mostram que unidades de 6ª e 8ª séries também ficaram com desempenho abaixo da meta em português e matemática

FÁBIO TAKAHASHI
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nenhuma escola estadual da capital paulista que oferece sexta e oitava séries ou ensino médio tem médias consideradas adequadas em português e matemática, conforme critério da própria Secretaria da Educação. Na quarta série, apenas dez unidades atingiram o patamar.
O governo José Serra (PSDB) mantém 580 escolas com quarta série na capital paulista; 632 têm sexta; 619, oitava; e 588, ensino médio (antigo colegial).

Os dados estão presentes no Saresp, exame anual aplicado pelo Estado, cujos resultados foram divulgados na semana passada. A tabulação dos resultados das unidades na capital foi feita pela Folha.

A secretaria espera que na quarta série os alunos consigam, por exemplo, compreender a moral de uma fábula ou resolver problemas matemáticos que envolvam centavos. A pasta reconhece que há problemas na qualidade do ensino, mas afirma que tem havido avanços. Cita, por exemplo, a melhora do desempenho em matemática. Em língua portuguesa, porém, houve queda na maioria das séries.

Ontem, durante a posse do novo secretário da Educação, Paulo Renato Souza, Serra afirmou que, "em questão de prédios, de merenda, de transporte, a situação é de boa para excelente. As professoras são muito simpáticas, e os alunos têm vontade de aprender. Mas isso não está acontecendo."

O tucano apontou como ações para a melhora da qualidade do ensino a criação de materiais pedagógicos e a bonificação por desempenho (pago aos educadores a partir do resultado de sua unidade) -projetos já em andamento. Já o novo secretário da Educação afirmou que "os resultados estão melhorando. O problema é que muitas vezes espera-se grandes mudanças em pouco tempo."


Salários

O presidente da Udemo (entidade que representa os diretores de escolas), Luiz Gonzaga Pinto, afirmou que "é preciso uma mudança na estrutura da escola pública". Ele diz que os principais pontos são fixar o professor em uma escola e pagar melhores salários. "É preciso uma política para entusiasmar o pessoal".

Para ele, o pagamento do bônus por desempenho foi um "desastre". "Cerca de 30% dos educadores não vão receber nada e ficaram muito desanimados. Outros estão em escolas com boas notas, mas vão ganhar menos do que em outras com piores desempenhos." O mecanismo criado pelo governo prioriza as unidades que melhoraram em um ano, não necessariamente as que têm os melhores desempenhos.

Colaboraram JULIANA CARIELLO, DANIELA MERCIER, MAURÍCIO MORAES, MÔNICA RIBEIRO E RIBEIRO E IGOR GIANNASI

Em um bairro tranquilo, campeã da 4ª diz que ideal é evitar troca de professores

DO "AGORA"

Para a direção da Escola Estadual Doutor Luís Arrobas Martins (zona sul de SP), cujos alunos da 4º série foram os primeiros colocados da capital em matemática no exame do Saresp, o bom desempenho se deve ao fato de os professores serem preparados para usar o material fornecido pelo Estado.

Segundo a diretora, Aparecida Deise de Almeida Wakim Tannous, o material pedagógico é estudado pela equipe e as necessidades e dificuldades de cada turma também são analisadas.
Das 582 escolas estaduais de 1ª a 4ª série da capital, a Luís Arrobas ficou em primeiro lugar em matemática. Em português, foi a terceira, atrás da Professora Blanca Zwicker Simões, na zona norte, e da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP, na zona oeste.

"De especial não temos nada. Usamos as mesmas ferramentas que as outras escolas utilizam. Temos, sim, um norte teórico [estudar o material disponível para ter bons resultados em cada turma] e, a partir desse norte, os professores programam as aulas", diz a diretora.

Ela, no entanto, afirma que a unidade procura manter o quadro de professores. "Em qualquer lugar é importante montar e manter uma equipe. Aqui, temos professores efetivos que criaram um laço com a escola."

Além disso, a escola fica na Vila Cruzeiro, um bairro tranquilo de Santo Amaro. "Essa tranquilidade é fundamental para o aprendizado do aluno", diz a diretora.

 

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