Fábio Feldmann
De São Paulo
Vemos todos os dias nos jornais e televisões uma série de escândalos políticos que penduram sem resoluções, sendo que cada novo escândalo tem o incrível efeito de nos fazer esquecer do escândalo passado. Se por um lado estas notícias tão cotidianas são desanimadoras, por outro, existem iniciativas ocorrendo, extremamente importantes, de pessoas e da sociedade civil para melhorar o planeta, porém ausentes nos noticiários. Já são diversos os empreendedores sociais no Brasil, comuns entre si por uma qualidade ímpar: a generosidade.
Nesta semana pretendo então falar de idéias brilhantes, combinadas com gestos importantes e a determinação de "fazer acontecer" desses empreendedores sociais.
É inimaginável o sentimento de solidão/carência de uma criança que vive em um abrigo para crianças e adolescentes, pois foi separada temporariamente do convívio familiar por ter sido exposta a situações de negligência, maus tratos, abandono, violência física e/ou abuso sexual. Ou então a aflição da mãe de um bebê prematuro, distanciada de seu filho sem poder vê-lo, bem como a apreensão e as incertezas sobre a sua saúde e seu futuro.
Admira-me muito a iniciativa criativa da presidente da ONG InPróS (Instituto de Projetos Sociais) Muriel Matalon, com o projeto Correspondentes do Bem, que viu no gesto simples de troca de cartas periódica a possibilidade de crianças que moram em abrigos ou frequentam núcleos sócio-educativos, onde o desenvolvimento de vínculos afetivos é pouco consistente, experimentarem relações de afeto recíprocas, dividirem suas experiências e exercitar a reflexão da suas histórias de vida e individualidade, além de verem nas cartas um estímulo para desenvolver a habilidade de se expressar com palavras.
O projeto viabiliza a correspondência destas crianças com voluntários adultos, inclusive com o acompanhamento de uma psicóloga que lê as cartas em sigilo garantindo que a troca seja benéfica para ambos, cada qual com seus objetivos específicos.
As crianças e adolescentes têm a oportunidade de fazer perguntas, dividir alegrias e tristezas relacionadas aos familiares, à escola e aos amigos, falar de namoros e de futuro, enquanto os voluntários, muitas vezes, curam antigas feridas ao acompanharem relatos de histórias semelhantes.
O projeto, que nasceu em 2004, contava em agosto de 2008 com 1.252 pessoas – metade de crianças e adolescentes e metade de voluntários – sendo que 11 mil cartas já foram escritas. No entanto, com a crise o projeto enfrenta problemas de arrecadação. São 138 voluntários na lista de espera que não podem agir devido a falta de recursos. O projeto utiliza R$ 38 por criança por mês, que por dia dá cerca de R$ 1,22, isto é, nem o preço de um chocolate ou uma Coca-Cola.
Outra iniciativa de empreendedorismo social de sucesso é a ONG Viver e Sorrir presidida pelo médico Benjamin Kopelman, vice-presidida por Liliana Takaoka, visando garantir a vida e a qualidade de vida de bebês prematuros de famílias necessitadas.
Pode parecer a primeira vista que os bebês prematuros são apenas prematuro e irão se desenvolver e crescer como qualquer bebê. Às vezes sim, mas nem sempre. Os recém-nascidos de muito baixo peso apresentam maior risco de morbidades como paralisia cerebral, retardo mental, problemas escolares, deficiência de crescimento e distúrbios visuais, auditivos e respiratórios. Nas populações economicamente carentes o risco é ainda maior por fatores maternos como baixo nível socioeconômico, assistência pré-natal ausente ou inadequada, nutrição deficiente, trabalho extenuante, e doenças não diagnosticadas como diabetes, hipertensão, anemia e infecções.
A questão é que existem tecnologias e tratamento para a criança de nascimento prematuro, no entanto, o acesso é restrito e o desenvolvimento desse bebê se deve também a estrutura familiar e seu nível socioeconômico e educacional. A ONG procura, em parceria com a disciplina de Pediatria Neonatal da Unifesp, oferecer desde melhorias na UTI neonatal, transporte das mães necessitadas para que estejam com seus filhos internados ou para levá-los às consultas médicas, equipamento de reabilitação das crianças, vestuário, cestas básicas e medicamentos, até apoio às famílias facilitando o acesso aos serviços de saúde, informando sobre higiene, saúde e direitos sociais, propiciando meios para melhoria das condições de moradia, saúde e educação. O acompanhamento muitas vezes se dá até os 15 ou 20 anos do prematuro, em que a família também é assistida por voluntários da ONG.
Não se pode ter noção de como isso pode fazer a diferença para alguém. São verdadeiras oficinas de sensibilização, que não saem nos noticiários. É interessante a possibilidade de replicabilidade destas mensagens do bem. Idéias boas todos têm, a dificuldade esta em operacionalizar e concretizar essas idéias e fazer realmente a diferença.
Eu, como ambientalista, poderia estar aqui defendo a colaboração à ONGs ambientalistas, mas a escolha das entidades se deu justamente para que, neste dia das mães, pensemos nas crianças e mães necessitadas que encaram inúmeras dificuldades diariamente e que muitas vezes nem nos damos conta.
Tenho escrito muito sobre o consumo sustentável, que segundo o Instituto Akatu é "consumir levando em consideração os impactos provocados pelo consumo". Minha proposta é que neste dias das mães, ao invés de presentear nossas mães com mais uma bugiganga, por que não darmos a elas algo que tenha um impacto positivo real sobre o planeta: uma oportunidade para outras crianças que têm necessidades reais e precisam de uma simples ajuda como as propostas por essas iniciativas.
Contribuam doando recursos financeiros, se voluntariando, divulgando em jornais e revistas ou outros veículos, ou até mesmo disseminando para seus amigos estas e outras atividades do bem.
O contato da InPrós é www.inpros.org.br ou nos telefones (11) 3257-0811, (11) 3578-4178 ou (11) 3571-0509 e o da Viver e Sorrir é www.viveresorrir.org.br ou pelo telefone (11) 55 71-9277.
**Fabio Feldmann é consultor, advogado, administrador de empresas, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e fundador da Fundação SOS Mata Atlântica. Foi deputado federal, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Dirige um escritório de consultoria, que trabalha com questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável.
Fale com Fabio Feldmann: fabiofeldmann08@terra.com.br