Novo índice para medir prosperidade está em estudo em países desenvolvidos

 

Felicidade, satisfação com a vida e bem-estar são “metas que os governos deveriam prover aos seus cidadãos” afirma o butanês mestre em política, filosofia economia, Dasho Karma Ura. Ele diz isso com a experiência de quem acompanha de perto a aplicação de um novo conceito para medir o desenvolvimento de uma sociedade – o FIB (Felicidade Interna Bruta), que começou a ser desenvolvido há duas décadas no Butão, pequeno país vizinho da Índia e da China. Karma esteve na I Conferência Nacional do FIB, nesta quarta (29/10), no Sesc Pinheiros, em São Paulo, para falar sobre o tema. O objetivo da organizadora do evento, Susan Andrews, é estimular que o modelo do FIB seja adotado por empresas e governos no Brasil.

A experiência começou no Butão em 1972, por iniciativa do rei Jigme Singye Wangchuck, com a proposta de rever o significado de desenvolvimento social e econômico. Após mais de duas décadas, os índices de analfabetismo e mortalidade infantil caíram drasticamente no país e as belezas naturais estão preservadas, sendo 25% do território formado por parques nacionais.

O FIB foi desenvolvido após diversas conferências que reuniram especialistas de várias partes do mundo para identificar o que é importante para trazer felicidade às pessoas de uma nação. Foram identificadas nove dimensões da vida para avaliar o nível de felicidade da população: padrão de vida econômica, critérios de governança, educação de qualidade, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico. A avaliação ocorre por meio de pesquisas de percepção construídas com base em mais de 150 indicadores que integram as nove dimensões citadas.

Idealizadores e adeptos do FIB valorizam no modelo o fato de ter uma abordagem mais ampla sobre o desenvolvimento da sociedade do que outros métodos, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que não considera os aspectos subjetivos do indivíduo, e o Produto Interno Bruto (PIB), que segue um critério estritamente econômico, sem levar em conta a destruição do meio ambiente e a subjetividade. “Nenhum outro índice chega perto daquilo que se quer com relação à felicidade”, afirma Karma.

De acordo com o pesquisador, com os resultados dos questionários de percepção nas mãos os gestores de uma cidade ou país podem eleger as prioridades de governo para garantir o bem-estar das pessoas. As informações devem estar disponíveis aos cidadãos para que mais cientes da realidade possam contribuir com sugestões de como melhorar a vida da população.

Pesquisadores de vários países, entre eles Inglaterra e Canadá, estudam como o modelo pode ser adotado em outros locais. Na cidade canadense de Vancouver vem sendo desenvolvido o Índice Canadense de Bem-Estar, que deve ser implantado em breve, explicou o palestrante Michael Pennock, integrante da área de saúde da administração de Vancouver e também coordenador da colaboração internacional na implementação do FIB. Para ele, a vantagem do modelo FIB é que evidencia a importância de que todos os setores de governo devem trabalhar de forma harmônica levando em conta as nove dimensões, sem priorizar uma área específica, se não o bem-estar dos cidadãos é prejudicado.

O economista Ladislau Dowbor enfatizou na conferência que o processo participativo da população na implantação do FIB no Butão é que vem garantindo o êxito da experiência. Segundo Dawbor, para que as decisões estejam a serviço de garantir o bem-estar individual e coletivo é preciso um “deslocamento de poder por trás desse processo”, ou seja, as pessoas devem se envolver no debate como protagonistas. E destaca: “não vai aparecer papai-noel para resolver a vida das pessoas, a política tem que ser as pessoas”.

O objetivo da organizadora do evento, Susan Andrews, é estimular que o modelo do FIB seja adotado por empresas e governos no Brasil. Já vem sendo implantado na cidade de Angatuba, no interior de São Paulo. Na capital paulista, o secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge Sobrinho, que participou da conferência, demonstrou interesse em iniciar pesquisas de medição do FIB em subprefeituras da capital a partir do ano que vem.

No próximo fim de semana, haverá uma reunião de pesquisadores com o objetivo de formar um comitê de validação dos índices no Brasil. O comitê terá o papel de avaliar de forma científica se a metodologia do FIB está sendo seguida pelos governos e organizações que a adotarem conforme os critérios técnicos.

Interessados em conhecer mais sobre o FIB podem entrar em contato com o Instituto Visão Futuro, pelo e-mail visãofuturo@visãofuturo.org.br ou pelos telefones (15) 3257-1243 / 3247-1540

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