“14 parques contaminados por metais” – Jornal da Tarde

 

Buenos Aires é o parque que apresenta os piores índices de contaminação por chumbo e cobre. Cães e crianças são as principais vítimas e podem ter vômito e diarreias. A contaminação é causada pelos carros

FERNANDA ARANDA, fernanda.aranda@grupoestado.com.br

A poluição dos carros ultrapassou a já escassa barreira verde da capital e contaminou os redutos paulistanos considerados imunes aos poluentes. Um estudo divulgado neste mês detectou que os solos dos parques, em especial os que ficam no centro, estão contaminados por metais-pesados, como chumbo, arsênio, cobre e bário, em concentrações que ultrapassam, em alguns casos, até duas vezes os padrões estabelecidos como seguros pelo governo paulista para não provocar danos à saúde.

A longo prazo, a contaminação por metais pode resultar em vômitos, diarreias, tonturas e, em casos extremos, até câncer. A análise foi feita com amostras colhidas em playgrounds e pistas de corrida de 14 parques (veja ao lado). Todos apresentaram pelo menos um dado de metal em desacordo.

“Os índices mais altos estão nos parques próximos à região central – Buenos Aires, Luz e Trianon – , onde há um tráfego intenso de veículos, os grandes responsáveis pela concentração de metais”, afirma a autora do estudo, Ana Maria Graciano Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipen) – que realizou a análise com a Fundação ao Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

Um dos piores cenários está no Parque Buenos Aires, em Higienópolis, área nobre do centro. A concentração de chumbo foi de 439 mg/kg, sendo que o parâmetro da Cetesb é de 180 mg/kg (2,2 vezes mais). Os parques do Ibirapuera, Aclimação, Luz e Trianon estão em situação de alerta para chumbo, arsênio, bário e cromo.

As crianças e os cachorros são os mais suscetíveis ao problema, explica o coordenador de pós-graduação do Departamento de Microbiologia da USP, Mario Julio Ávila-Campos, devido ao contato mais próximo ao solo.“O risco para quem vai aos parques, ainda que diariamente, é difícil de ser mensurado”, explica. “Quando o organismo fica saturado de metais responde com tontura, desequilíbrio e diarreias, sintomas que as pessoas dificilmente vão relacionar à contaminação por chumbo, arsênio ou outro metal.”

Especialistas garantem que não há motivo para pânico, mas é preciso que as autoridades alertem a população sobre a dosagem ‘metálica’ nos parques. “No Brasil ainda é muito recente esta preocupação com os metais. Para contato esporádico ainda faltam pesquisas que comprovem os perigos, mas os índices da pesquisa são altíssimos”, argumenta Luiz Roberto Guilherme,pesquisador do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras.

Se ainda há dúvidas sobre o alcance da contaminação, já há certeza de que os automóveis são os ‘vilões’. “A dispersão desses materiais é por meio do escapamento dos carros, tanto que quanto mais perto das vias públicas, maiores são os índices”, diz a engenheira florestal do Laboratório de Poluição da USP, Ana Paula Martins, que encontrou os materiais em excesso até nas cascas de árvores de cinco parques (estudo que será apresentado em junho).

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