70 prefeitos, entre eles Kassab, vão a fórum sobre clima, mas revitalização da cidade é o grande tema
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
Imagine o Tietê limpo, com árvores, ciclovias e pistas de corrida ao longo das marginais. Que o Minhocão fosse demolido e o Tamanduateí virasse um grande parque horizontal ao longo de águas cristalinas.
Pode parecer fantasia para São Paulo, mas é uma ambição realista de Seul.
Após destruir um elevado que cortava o centro histórico e recuperar o rio Cheonggye, a capital sul-coreana embarcou num ambicioso projeto que pretende tornar o Han, seu maior rio, o coração da cidade.
Mais de 70 prefeitos de metrópoles, entre eles o paulistano Gilberto Kassab, chegam hoje a Seul para participar de uma conferência sobre clima, mas a transformação da cidade será o grande caso para estudo.
Há duas semanas, Seul inaugurou o primeiro parque às margens do Han, com mirantes e uma extravagante fonte luminosa que cai de sua principal ponte. Outros três parques ficam prontos até setembro.
Até 2010, suas margens ganharão 33 obras, entre elas seis parques, mirantes, ciclovias e quadras de esportes, num investimento de US$ 530 milhões (equivalente aos 32 km do trecho oeste do Rodoanel).
O rio, que tem 1 km de largura, ainda não está completamente limpo, mas a prefeitura está reintroduzindo peixes e aves que costumavam habitar o Han até os anos 60, quando ele se tornou sinônimo de esgoto.
Nos anos 80, quando começou a despoluição, fábricas começaram a abandonar Seul e as que ficaram passaram a receber multas pesadas se continuassem a lançar dejetos no rio. Quatro estações de tratamento de esgoto foram criadas.
Na década seguinte, a prefeitura recuperou todo o sistema de saneamento de conjuntos habitacionais, que lançavam emissões clandestinas.
Nos últimos anos, prefeitura, grupos ambientalistas e até o exército têm feito limpezas periódicas do rio, retirando de bicicletas a pneus. Um sistema informático rastreia a qualidade da água para ver de onde chega a poluição.
O planejamento da prefeitura vai até 2030, quando os 40 km do rio que cruzam a capital estarão repletos de verde. A ideia é fazer túneis em trechos das marginais para alargar os parques e levar shows e esportes aquáticos para a região.
Um grande centro empresarial, com gigantescos arranha-céus, será instalado numa das margens, ocupando o espaço da atual base americana, de mudança para o sul da cidade.
Na terça, foi anunciado que o arquiteto americano Daniel Libeskind fará o plano piloto do complexo de US$ 20 bilhões, que será construído de 2013 a 2020. A valorização do terreno pagará parte das benfeitorias no Han. Multinacionais coreanas, como Samsung, Hyundai-Kia e LG, participam do projeto.
Leia também:
"Cidade busca nova imagem com água e design" – Folha de S.Paulo
"Rio ‘perde’ minhocão e vira o símbolo da revitalização" – Folha de S.Paulo