Índice é de estudo da Secretaria de Estado da Saúde com dados da Fundação Seade
Queda se deve a ações como terapia e distribuição de anticoncepcionais, avalia coordenadora do programa de saúde do adolescente
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um período de dez anos, o número de adolescentes paulistas que ficaram grávidas pela segunda vez teve uma queda de 48%, aponta levantamento da Secretaria de Estado da Saúde com base em dados da Fundação Seade. No mesmo período, as taxas de primeira gravidez na adolescência caíram 34%.
Não há dados nacionais sobre a incidência da segunda gravidez. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), as chances de uma garota voltar a engravidar após uma primeira gestação na adolescência são de 40% em até três anos.
Em 1998, 26.237 jovens paulistas com menos de 20 anos engravidaram pela segunda vez. Em 2007, o número caiu para 13.674. No mesmo período, o número de primeiras gravidezes na adolescência diminuiu de 148.018 para 96.556.
No Brasil, também houve queda. O número de partos realizados pelo SUS em adolescentes de dez a 19 anos caiu 26,7% entre 1997 e 2007. A região Sul apresentou a maior redução (35,6%), seguida pelas regiões Centro-Oeste (34,1%), Sudeste (32,4%) e Nordeste (22,6%). A região Norte foi a que apresentou a menor queda: 6,7%.
Para a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa Estadual de Saúde do Adolescente, a queda em São Paulo é resultado de diversas ações -de terapia em grupo e oficina de artesanato a distribuição de anticoncepcionais e preservativos.
"A família pensa que quando a menina engravida na adolescência, ela já aprendeu a lição e vai se cuidar. Mas não é o que acontece. Ela tende a ficar mais fragilizada e vulnerável a uma segunda gravidez", diz Takiuti.
Abandonar a escola, perder o contato com amigos da mesma idade, ver o corpo transformado após a gravidez e, muitas vezes, ter sido abandonada pelo pai da criança são alguns dos fatores que impactam na autoestima da garota e propiciam outra gestação, avalia a médica.
Além de informação e orientação, ela diz que o trabalho desenvolvido pelo programa do adolescente busca identificar as emoções, medos e dúvidas dos adolescentes sobre afetividade, relacionamentos e sexo seguro. "A menina tem medo de não agradar, e o menino, de falhar", conta a ginecologista.
Para a socióloga Mary Garcia Castro, pesquisadora da Universidade Federal da Bahia, abandonar a escola é um dos principais fatores de risco para a garota voltar a engravidar. "Já a melhoria da qualidade do grupo familiar e um maior grau de escolaridade funcionam como fatores de proteção", avalia.
Balada da saúde
Um dos projetos que visam reduzir a gravidez na adolescência e incentivar o sexo seguro é o Balada da Saúde, que acontece às segundas-feiras na Casa do Adolescente de Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
No local, ginecologistas, psicólogos e nutricionistas tiram dúvidas sobre sexo, gravidez precoce, uso de preservativos e problemas de saúde. Há ainda distribuição de preservativos e de folhetos explicativos.
"Tinha vergonha de falar sobre sexo. Aqui perguntei tudo e até perdi o medo de fazer o papanicolaou", conta Andréia, 15.
Grávida aos 13 anos, a garota deixou a escola no oitavo mês de gestação. "Engordei 26 kg e tinha falta de ar. Não dava mais para assistir às aulas." Neste ano, ela retomou os estudos.
A colega Danili, 16, engravidou aos 14. "Já tinha recebido informação sobre camisinha e anticoncepcional, mas não usava nada. Agora, uso camisinha e tomo injeção [anticoncepcional]. Morro de medo de engravidar novamente", diz ela.
Danili ainda não voltou à escola. "Estou esperando uma vaga no supletivo", diz. Assim como ela, outras duas adolescentes que estavam na balada também abandonaram a escola quando engravidaram e ainda não retomaram os estudos.
Para Takiuti, a escola é um fator protetor. "Lá, ela continua a integrar um grupo e a ter outros interesses e atividades."
Números
de 34% foi a queda das taxas de primeira gravidez na adolescência no Estado de São Paulo, no período de 1998 a 2007
26.237 jovens paulistas com menos de 20 anos engravidaram pela segunda vez em 1998; em 2007, o número caiu para 13.674
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