“Patrulha de vizinhos protege a Vila Romana” – Jornal da Tarde

 

Cansados de assaltos frequentes, moradores se reuniram, trocaram telefones para se conhecer melhor e colocaram em suas casas um aviso para os ladrões. Ao menos 80 já aderiram à iniciativa

NAIANA OSCAR, naiana.oscar@grupoestado.com.br

Inseguros com os constantes casos de roubo e invasão de casas, os moradores da Vila Romana, na Lapa, zona oeste, decidiram se unir para afastar os bandidos. O muro de cada casa, agora, tem um aviso aos ladrões: “Meu vizinho está de olho!”. Por trás dessas placas existe uma rede de contatos preparada para ser acionada diante de qualquer movimentação estranha nas ruas.

A mobilização começou há dois meses com seis moradores e agora já beira 80 integrantes. A ideia surgiu depois que uma das casas da Rua Manoel Jacinto do Rego foi assaltada em plena luz do dia. Os bandidos estacionaram o carro na calçada e fizeram a limpa: levaram televisões, aparelho de DVD e outros eletrodomésticos. Os vizinhos viram tudo, mas como mal se conheciam, acharam que a família estivesse de mudança.

Foi depois desse assalto que os moradores fizeram a primeira reunião. A partir dela, chegaram à conclusão de que precisavam se conhecer melhor e, de forma premeditada, fazer com que a vizinhança voltasse a ter o clima natural de amizade que havia antigamente. Dos encontros formais para discutir segurança surgiram os bate-papos no portão e a troca de telefones.

Inspirado em experiências semelhantes no Japão e nos EUA, o comerciante Marcelo Caselato, de 43 anos, sugeriu as placas. Ele mora no bairro desde que nasceu e lembra de uma época em que as crianças brincavam nas ruas, não havia muros nem portões e os vizinhos frequentavam as casas uns dos outros. “Pensamos na placa porque ela não agride ninguém, mas indica que essas casas estão unidas”, diz. Moradores de ruas próximas – como a Fábia, Catão, Antônio Calafiori e Coriolano – já aderiram à “campanha”. Hoje, 50 casas exibem as placas nas fachadas e outras 50 já foram encomendadas. Cada uma custa R$ 5.

Caselato já teve uma prova de que a iniciativa está dando certo. Há 15 dias, quatro homens tentaram invadir o sobrado em que ele vive com a mãe e o filho. Eram 14h30. A dona de casa Miriam Camas, de 48 anos, ia ao mercado quando percebeu homens estranhos tentando abrir o portão. “Pensei: meu Deus, é a casa da dona Ivete e dei um grito”, conta. “Ainda lembro o jeito que eles me olharam”, diz Miriam. Enquanto ela correu até em casa e telefonou para a vizinha Ivete, os ladrões fugiram. Miriam aprendeu nas reuniões seguintes que deveria simplesmente ter ligado para a polícia, no 190 ou no próprio batalhão da PM local, que apoia a mobilização. Sem gritos.

Embora ainda não tenham estatísticas, os moradores da Vila Romana notaram uma redução de furtos e roubos na região. A presidente do Conselho de Segurança da Lapa, Maria Vargas, estima que havia pelo menos uma ocorrência por dia, mas elas dificilmente eram registradas por medo e falta de informação das vítimas. “Diante dos índices, havia mesmo a necessidade de se fazer um trabalho preventivo”, diz. “E a solução foi ótima: não é porque não acontece comigo que não posso ajudar.”

Mas a patrulha de vizinhos não substitui o trabalho da polícia. Ao contrário: tem feito com que a PM esteja mais presente. “Esse movimento trouxe algo que não tínhamos quando éramos ‘solitários’. Agora, ‘solidários’, conquistamos o respeito das autoridades”, diz o consultor Antônio Gaspar, de 50 anos, morador da vila há dez.

O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, Marcelo Gonzales, apoia a iniciativa dos moradores e considera essa uma ação exemplar. “Deve ser inclusive copiada em outros bairros”, diz o capitão, que admite não conhecer os vizinhos do prédio onde vive há 28 anos. “O que eles não podem é ter espírito de polícia e tentar resolver sozinhos os problemas”, diz. Os moradores, segundo Gonzales, podem e devem ajudar com informações.

Para o o coronel José Vicente Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, essa vigilância comunitária deve ser seguida de uma orientação policial, para que os moradores tenham realmente capacidade de identificar um suspeito. “Isso fará com que a comunidade, de fato, consiga afastar os criminosos.” Na semana passada, a necessidade de treinamento ficou evidente. O boato de que uma quadrilha assaltava casas com uniformes de uma distribuidora de gás fez um morador fotografar um homem uniformizado e denunciá-lo à polícia. “Era uma lenda e o rapaz não passava de um trabalhador”, conta Gonzales.

DICAS PARA QUEM MORA EM CASA

Não deixe que objetos de valor sejam vistos por quem está do lado de fora: aparelhos eletroeletrônicos à mostra podem chamar atenção de bandidos

Instale esquema de alarme, ainda mais quando for viajar. Em férias, peça para um vizinho pegar as cartas deixadas no imóvel

Quando chegar em casa, preste atenção em quem está nos arredores. Se tiver dúvida, dê uma volta no quarteirão

Quando estiver fora, peça para que um vizinho fique atento a movimentações estranhas perto de sua casa

Mantenha sempre as portas e as janelas da casa fechadas

 

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