“Poluição já é causa de risco cardíaco” – Jornal da Tarde

Antonio Carlos P. Chagas
Estudos recentes do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) comprovaram que também no Brasil a poluição atmosférica se tornou fator de risco para o coração. Os brasileiros expostos ao material particulado fino expelido pelos motores a combustão, principalmente nos congestionamentos, passam a ter 2,3 vezes mais risco de problemas cardíacos que a população de cidades de ar limpo.
Essa constatação precisa ser divulgada hoje, data em que é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente porque, ao contrário do que muita gente pensa, preservar o meio ambiente não é apenas combater a derrubada da floresta amazônica que, por sinal, não se consegue impedir quando o Congresso Nacional torna mais permissíveis as derrubadas.
Para os cardiologistas, a proteção do meio ambiente começa não na floresta, mas nas grandes cidades, onde vive a imensa maioria da população brasileira. A população das grandes metrópoles precisa de ar limpo para que possa viver mais, com boa qualidade de vida e para isso é vital que o combustível fornecido aos veículos tenha menor porcentagem de enxofre, como ocorre há anos nos países desenvolvidos. 
Proteger o meio ambiente pressupõe uma ação muito mais incisiva das autoridades de trânsito, para que não haja motores a diesel com injetores desregulados, soltando nuvens de fumaça. Pressupõe soluções mais rápidas para a eliminação dos congestionamentos, para a substituição do veículo poluente por linhas de Metrô e trens mais rápidos e confiáveis.
A pergunta que me tem sido feita é por que a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) passou a se preocupar com o meio ambiente e por que ainda agora, nesta data mundial, promove campanhas para medir a poluição do ar em cidades como São Paulo. 
A resposta é que no mundo globalizado em que vivemos não há mais disciplina hermética, não existe mais fator isolado. Atualmente, quando um médico ouve no rádio que haverá inversão térmica, sabe de antemão que será um dia pesado nos Prontos-Socorros, que terá a missão de tentar salvar enfartados que não teriam sofrido o ataque cardíaco se vivessem numa cidade de ar mais limpo. 
Não há engano possível. No nosso mundo interdependente, a saúde do ar repercute diretamente na saúde do ser humano. E a saúde do ser humano é aquela que nós, médicos, juramos defender quando recebemos nosso diploma. É por isso que os 12 mil cardiologistas brasileiros estão diretamente envolvidos na defesa do meio ambiente, da saúde e da vida.
PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC) E PROFESSOR DE CARDIOLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP
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