Em 2008, houve mais novos prédios em Guarulhos, São Bernardo, Santo André e Osasco do que em qualquer área da capital
Entre as razões da migração, estão a busca por qualidade de vida e por imóveis proporcionalmente mais baratos que em São Paulo
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Áreas de São Paulo tradicionalmente cobiçadas pelo mercado imobiliário estão perdendo o posto para outros municípios da região metropolitana.
Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santo André e Osasco tiveram em 2008, cada um, mais lançamentos de casas e apartamentos do que qualquer área da capital, segundo dados da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio), que registra residências do mercado formal.
Nem mesmo o Morumbi (zona oeste), que costuma concentrar os novos empreendimentos, se manteve no pódio.
Para especialistas, a ampla oferta de apartamentos de alto padrão no município somada à baixa oferta de imóveis para a classe média estão promovendo um processo de "elitização" de São Paulo. O alto custo de vida e a dificuldade de locomoção contribuem para a migração.
De modo geral, enquanto a classe média procura o ABC, as classes populares se deslocam para Guarulhos. Em comum, todos buscam maior qualidade de vida, pagando menos.
"São locais com unidades mais em conta e área por unidade maior do que na capital", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp.
Ele afirma que essas cidades já vinham galgando posições no ranking imobiliário. "[Os municípios da Grande São Paulo] têm as mesmas vantagens da cidade grande -shoppings, supermercados, bons restaurantes- e menos problemas, como trânsito e falta de segurança."
Construção
Segundo o presidente do Secovi (sindicato imobiliário) João Crestana, as restrições urbanísticas de São Paulo contribuíram para esse quadro. Para ele, é preciso ampliar a altura máxima permitida em algumas regiões, o que reduziria o preço final dos apartamentos.
A concentração populacional, porém, pode trazer problemas se não for bem planejada, diz a professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP Suzana Pasternak.
"É preciso saber qual a capacidade de infraestrutura, senão ninguém anda em São Paulo." Ela ressalta que a migração para a periferia continua. "Só quem tem dinheiro sobrevive com um mínimo de qualidade."
Para Crestana, o mercado já notou a demanda por produtos mais baratos. O percentual de lançamentos luxuosos, de quatro dormitórios, está caindo, e o de dois quartos, crescendo. "É o "efeito Casas Bahia’: vender por menos e assim vender mais."