Entidades brasileiras questionam alto teor de enxofre no diesel da estatal, que foi excluída de índice similar da Bovespa em 2008
DENISE MENCHEN DA SUCURSAL DO RIO JANAINA LAGE DE NOVA YORK
Presente no Índice de Sustentabilidade da Dow Jones (DJSI, na sigla em inglês) desde 2006, a Petrobras enfrenta uma campanha liderada por organizações não governamentais que questionam o alto teor de enxofre no diesel brasileiro e pedem aos gestores da carteira a adoção de "medidas apropriadas". No ano passado, ação semelhante resultou na exclusão da companhia do Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa.
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O presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, explica que uma carta assinada por nove instituições e três secretarias de Meio Ambiente (municipal de São Paulo e estaduais de São Paulo e Minas Gerais, hoje fora do grupo intitulado Coalizão pelo Ar Limpo) foi enviada em novembro do ano passado para a Dow Jones.
Em entrevista à Folha, Alexander Barkawi, diretor da SAM Indexes, responsável pela gestão do índice em parceria com a Dow Jones, confirmou o recebimento do documento e disse que o procedimento padrão adotado em situações como essa é a checagem de informações e posterior cobrança de explicações da companhia envolvida. Ele não apresentou, porém, detalhes específicos sobre o caso Petrobras.
"É raro que um único fator seja responsável pela saída da empresa do índice. O que normalmente acontece é que as empresas se envolvem em determinadas situações de crise e têm suas notas reduzidas na avaliação, o que faz com que elas não se classifiquem", disse.
Pioneiro no mundo, o DJSI reúne companhias reconhecidas por sua responsabilidade econômica, social e ambiental. A cada ano são selecionadas as empresas com as melhores notas num universo de 2.500 companhias de 57 setores industriais. A revisão do índice ocorre sempre em setembro.
O efeito para a Petrobras de uma eventual exclusão da lista não se restringe somente à imagem. Atualmente, cerca de 70 instituições financeiras em 16 países usam o índice como referência em fundos que totalizam cerca de US$ 7 bilhões.
A polêmica envolvendo o diesel da Petrobras ganhou força em 2008, com a aproximação do fim do prazo dado pelo Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) em 2002 para que a frota brasileira reduzisse a emissão de poluentes.
Para que a meta, estipulada para o início de 2009, fosse atingida, a ANP (Agência Nacional de Petróleo) editou, em outubro de 2007, uma portaria que determinava a distribuição de diesel S50 (com 50 partes por milhão de enxofre), menos poluente. Um acordo de 2008, porém, postergou a mudança.
"No ano passado ficou claro que a empresa não iria cumprir a resolução e aí iniciamos várias ações", diz Hélio Mattar, presidente do Instituto Akatu, hoje secretário-executivo da Coalizão pelo Ar Limpo.
Além de enviar cartas para a Bovespa e para a Dow Jones, o grupo conseguiu ainda a suspensão de dois anúncios em que a Petrobras destacava seu compromisso com o ambiente.
Segundo o coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Saldiva, o principal problema relacionado ao enxofre do diesel brasileiro é que ele impede a adoção de motores mais modernos, com catalisadores que poderiam reduzir em até 95% a emissão de poluentes.
Ele explica que, atualmente, o diesel é responsável por até 45% das 19 mortes diárias causadas pela poluição na região metropolitana de São Paulo. Segundo ele, mesmo que os motores não fossem alterados, a adoção do diesel S50 traria uma redução de 10% a 30% na emissão dessas substâncias.