“Falta um manual técnico para calçadas paulistanas” – Estado de S. Paulo

 
Para engenheiro civil colombiano, via pública ideal é aquela que passa despercebida, que deixa a vida mais fácil

Edison Veiga

Ele é conhecido internacionalmente como autoridade em um assunto sobre o qual poucos param para pensar, mas está incorporado ao dia a dia de toda a população. O engenheiro civil colombiano Germán Guillermo Madrid é especialista em calçadas e vias públicas. Graduado pela Universidade de Medellín (Colômbia), com PhD pela Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh (Estados Unidos), ele acumula mais de uma centena de trabalhos publicados sobre o tema em 20 países. Sua empresa de consultoria tem na carteira clientes brasileiros, alemães, norte-americanos, costa-riquenhos, guatemaltecos, panamenhos e, claro, colombianos. Madrid é coautor do Manual de Desenho e Construção dos Componentes do Espaço Público (MEP), utilizado em Medellín desde 2003. Em sua sexta visita a São Paulo – onde, a convite da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), ministrou um curso na semana passada -, o engenheiro respondeu a algumas perguntas do Estado.

Em sua opinião, quais os principais problemas encontrados nas calçadas de São Paulo?

Os mesmos das calçadas de todas as cidades grandes. Uma grande deterioração, pobres especificações e condições de mobilidade para deficientes motores ou visuais e a falta de um manual técnico para unificar os procedimentos de construção ou intervenções em obras antigas e novas.

Medellín ganhou seu manual em 2003. Quanto tempo levou a elaboração?

Elaboramos o texto entre os anos de 1999 e 2002. É uma obra pioneira tanto na extensão do conteúdo como nos temas complementares, mas foi derivada dos princípios estabelecidos antes pela Cartilha das Calçadas de Bogotá.

Como o manual foi criado?

Éramos uma equipe com três profissionais do Instituto Colombiano de Produtores de Cimento (ICPC) e quatro do Laboratório de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Pontifícia Bolivariana. Além de uma designer gráfica. O manual é um compêndio com todas as diretrizes de desenho urbano, arquitetônico, paisagístico e técnico para o desenho e a construção do espaço público e temas associados, de acordo com a legislação de mobilidade e acessibilidade que existe na Colômbia – e não é muito diferente das que vigoram em outros lugares. O princípio é que a cidade seja digna e para todos.

Conforme os estudos atuais, como seria a via pública ideal?

É aquela que passa despercebida, ou seja, que permite um deslocamento ou estada sem nenhum obstáculo ou nada esteticamente desagradável. Em resumo: é aquela que deixa a vida mais fácil.

Qual é o maior erro que a administração pública comete em relação às vias públicas e sobretudo as calçadas?

Em primeiro lugar, o fato de o administrador não fazer nada, esquecer-se da existência das vias. É preciso ter consciência de que as vias públicas são obras que precisam ser desenhadas, construídas e mantidas de acordo com parâmetros técnicos.

Qual a cidade que você acredita ter o melhor passeio público em todo o mundo?

Talvez Sidney (na Austrália), porque tem um tratamento uniforme e coerente em toda a cidade. Mas há muitas cidades com desenhos fabulosos, especialmente na Europa. 

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