SÃO PAULO – Só será possível medir os efeitos das alterações realizadas pela prefeitura de São Paulo para os ônibus fretados daqui a pelo menos duas semanas, passado o período de adaptação dos usuários, afirmou o engenheiro e presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense. Segundo ele, ainda é difícil prever o impacto no trânsito da cidade.
A medida, que entrou em vigor na última segunda-feira (27), determina a proibição da circulação desse tipo de transporte de segunda a sexta-feira, das 5h às 21h, em uma área de 70 quilômetros quadrados denominada Zona Máxima de Restrição de Fretamento (ZMRF), e que abrange as principais vias da cidade.
Com as alterações, os usuários dos ônibus fretados estão obrigados a descer em pontos específicos, de onde devem ir até o local de trabalho ou estudo usando transporte público. Ontem, primeiro dia das novas regras, usuários que vêm de outras cidades para trabalhar na capital paulista relataram transtornos e irritação com o sistema.
Para Brasiliense, grande parte dos usuários deve acatar a determinação da prefeitura. Os demais tentarão contornar as dificuldades utilizando o transporte individual ou qualquer outro tipo de veículo que permita essa substituição. “Aí precisamos saber qual a renda das pessoas que usam o fretamento e se aquelas que possuem automóvel passarão a usá-lo em função do custo.”
O especialista destacou que trocar o fretamento ou o transporte coletivo público pelo carro pode sair mais caro uma vez que no cálculo devem ser incluídos gastos com combustível, estacionamento, seguro e até mesmo manutenção do veículo. “O que se gasta sempre é, no mínimo, o dobro com as outras despesas que o carro dá. É impossível saber qual a porcentagem que não vai aderir à proposta da prefeitura, mas não será 100%.”
Para Brasiliense, parte das reclamações está associada ao fato de que as pessoas não aceitam mudar seus hábitos e a estrutura já montada de suas vidas. “Alguns poderão fazer ajustes não tão doloridos. Outros até o final do ano terão enorme dificuldade de tentar alguma alteração.”
O engenheiro acredita que as duas primeiras semanas servirão como um período de ajuste no qual a prefeitura acatará e alterará muitos pontos. “Em duas semanas se tem um desenho final e aí saberemos exatamente quanto dessas pessoas terão mantido o propósito de continuar em um fretado limitado que vai ser completado por outro tipo de transporte e os que desistirão de vez e tentarão resolver isso com carona ou veículo próprio.”
Na avaliação de Brasiliense, o ônibus fretado é importante e deveria ser mais estimulado, desde que seja bem operado e fiscalizado. “Não pode ser feito de qualquer jeito, impondo para as demais pessoas que estão no sistema viário restrições que comprometam a circulação das outras e deles mesmos.”
O especialista também concordou com as reclamações de moradores que se dizem incomodados com o fato de ter ônibus fretados na porta de suas casas uma vez que a prefeitura escolheu algumas ruas da cidade para abrigar uma espécie de estacionamento para embarque e desembarque de passageiros – conhecidos como bolsões. “Isso também tem que ser negociado. Prefeitura e empresários têm que encontrar locais apropriados e não parar em qualquer lugar. Um estacionamento não pode ser feito de qualquer jeito em qualquer lugar.”
A professora de urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Raquel Rolnik, afirmou que a regulamentação da circulação dos ônibus fretados é fundamental, uma vez que a questão está relacionada não só com a circulação e o trânsito mas com a segurança dos passageiros. “É muito importante ter uma regulação pública, municipal, na medida em que esse é um elemento que faz parte do sistema de transporte.”
Raquel disse que as novas medidas para os fretados são positivas. Ela fez uma comparação com o fato de automóveis e caminhões serem obrigados a entrar em rodízios para circular na cidade. Segundo ela, o sistema de gestão do transporte da cidade deve valer para todos. “A ideia de que tem que ter uma zona de restrição é uma ideia importante. Não estou entrando no mérito de o desenho dessa zona ser adequado ou não, se a avenida que passa é a melhor ou não. Eu só apoio a iniciativa da prefeitura que entrou para fazer uma regulação, definir restrições e inserir esse tipo de transporte dentro da cidade.”
A professora ressaltou que as reclamações são comuns em situações novas e que há um período de acomodação tanto dos usuários quanto de moradores das ruas onde os bolsões foram instalados. “Eu acredito que a melhor postura da prefeitura vai ser levar em consideração essas reclamações e assim fazer os ajustes. Vários transtornos e reclamações devem ser levados em conta pela prefeitura. De ontem para hoje já ocorreram reclamações e ajustes. Outras crises não foram resolvidas, mas podem ser. Tem uma margem de adaptação e de mudanças.”