Após pressão, prefeito e todos os líderes da Câmara renegam projeto
Diego Zanchetta
Pressionada por autoridades médicas e até por secretários de governo, a gestão Gilberto Kassab (DEM) e os líderes da Câmara Municipal indicaram ontem que o serviço de mototáxi permanecerá vetado em São Paulo – uma lei de 1998, ainda em vigor, proíbe o serviço. Até a quinta-feira, porém, tanto o prefeito como parlamentares governistas admitiam a criação de regras específicas para alguns bairros da periferia. Um projeto de lei para regulamentar o serviço até foi protocolado no Legislativo pelo presidente da Comissão de Transportes, vereador Ricardo Teixeira (PSDB).
A mudança ocorreu de forma ensaiada. O prefeito chegou a conversar com alguns líderes da bancada governista, no fim de semana, e antecipou a possibilidade de vetar qualquer projeto que prosperasse na Casa. Kassab também alertou sobre o desgaste que a manutenção do assunto poderia causar tanto na Prefeitura como no Legislativo. Desde a sanção federal, na quarta-feira, o secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andréa Matarazzo, tem criticado qualquer regulamentação em sua página pessoal no Twitter. Matarazzo chegou a classificar de "sandice" a possibilidade de o serviço existir no Município.
Ontem, na primeira reunião do colégio de líderes após o fim do recesso, o veto ganhou tom uníssono. O líder do PSDB, Carlos Bezerra, tentava até convencer Teixeira a retirar o projeto de tramitação. "Uma coisa é você regulamentar isso em cidade do interior e outra é você fazer em São Paulo. Já temos muitas mortes violentas entre os jovens", argumentou o presidente da Câmara, Antonio Carlos Rodrigues (PR). Também líder do bloco político chamado centrão, o parlamentar tem influência sobre metade dos 55 vereadores da Casa.
Líderes do DEM, do PMDB, do PT e do governo também repudiaram o mototáxi. "Temos recomendações das principais autoridades médicas do País", disse José Police Neto (PSDB), líder do prefeito Kassab. Líderes do PT e do DEM, João Antonio e Carlos Apolinário também são contra. "Não tem cabimento legislar sobre algo que vai causar muito mais transtornos à saúde pública do que benefícios à mobilidade urbana", afirmou o petista. "Já morre muita gente com uma pessoa só na moto, imagine com duas", declarou Apolinário.
Jooji Hato, líder do PMDB, tenta até derrubar um veto do Executivo a um projeto seu que proíbe o motociclista de carregar outra pessoa. "Não só vamos vetar o mototáxi como queremos fazer uma lei que impeça de entrar em São Paulo qualquer tipo de motofrete de um município vizinho", afirmou Milton Leite (DEM), um dos principais interlocutores do prefeito na Câmara.
Autor do projeto de lei que permite o mototáxi em distritos da periferia, Teixeira defendeu que se discuta o tema. "As pessoas são contra sem conhecer o projeto. Estou dizendo que o serviço poderia ter regras específicas em Parelheiros, em Perus. Estou falando de áreas carentes de transporte público e onde o mototáxi até já existe e precisa de regras."
No entanto, entre os integrantes da Comissão de Transportes, a vereadora Mara Gabrilli (PSDB) já adiantou posição "radicalmente" contrária. "Não tem o mínimo cabimento mototáxi aqui na capital." Na bancada tucana, a maior da Casa, com 16 vereadores, Gilberto Natalini, Gabriel Chalita e Floriano Pesaro também defenderam o veto ao serviço.
SEM CHANCE DE REVOGAR
Já o vereador Wadih Mutran (PP), autor da lei que já proíbe o mototáxi na cidade, disse nem aceitar a possibilidade de revogação. "Quero ver quem tem peito aqui na Câmara para ir à frente com um absurdo desses", disse o parlamentar.