4% dos não-fumantes de São Paulo têm tantos poluentes no pulmão quanto os que fumam
FELIPE GRANDIN, felipe.grandin@grupoestado.com.br
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) aponta que 4% dos moradores de São Paulo que não fumam têm tanto poluente nos pulmões quanto pessoas que consomem pelo menos 10 cigarros por dia. Se for levado em conta o tamanho da população da cidade, mais de 300 mil pessoas estariam nessa situação .
Segundo os autores do levantamento, a culpa é da poluição. “Esse é um problema comum às grandes metrópoles, como Londres, Los Angeles e Pequim”, afirma Antonio Carlos Chagas, presidente da SBC. “É um alerta para o risco do uso indiscriminado de veículos e combustíveis altamente poluentes, como o diesel, os principais responsáveis pela poluição.”
O teste para a pesquisa foi feito no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e mediu a quantidade de monóxido de carbono (gás poluente) no sangue das pessoas. O resultado mostrou que 3% tinham nível semelhante ao de quem fuma até 10 cigarros por dia e 1% se igualava aos que consomem um maço diariamente. Apenas 20% estavam com o pulmão limpo. O restante tinha a substância, mas em níveis menores.
A concentração de poluentes no sangue provoca doenças ao longo dos anos, segundo Chagas. “No médio e longo prazos, leva à perda da capacidade respiratória, provoca alterações cardíacas e aumenta o risco de enfarte e derrame cerebral”, afirma o médico.
Segundo Paulo Saldiva, diretor do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, o risco é maior para crianças, idosos, grávidas e diabéticos, além daqueles que já têm problemas cardíacos. “São pessoas mais vulneráveis a essas doenças”, diz. “Mesmo que não possam fumar, acabam sendo obrigados, porque a cidade impõe”, explica.
Estudos feitos no laboratório apontam que a concentração de poluentes no ar paulistano é, em média, três vezes maior do que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que 20 moradores da capital morram por dia por doenças agravadas pela má qualidade do ar.
Mesmo que a poluição seja prejudicial à saúde, os males do cigarro ainda são piores, ressalta o pneumologista Ricardo Meirelles, do Instituto Nacional do Câncer (Inca). “A poluição ambiental é tóxica, mas não pode ser comparada com o tabagismo ou o fumo passivo, que é muito pior”, diz. “A fumaça do tabaco pode causar diretamente mais de 50 doenças, incluindo vários tipos de câncer e mata 5 milhões de pessoas por ano no mundo.” Duzentas doenças estão relacionadas à poluição.
O ar poluído é pior que o cigarro em um ponto, diz Saldiva: não dá opção. “O cigarro pega um quinto da população, mas a poluição pega todo mundo.”
