Luísa Alcalde e Lais Catassini
O serviço de ônibus municipal recebeu 205 queixas por dia de passageiros descontentes com o transporte coletivo oferecido na capital nos primeiros cinco meses deste ano. De janeiro a maio, a São Paulo Transporte (SPTrans), empresa que gerencia o sistema, recebeu 30.964 reclamações. A Prefeitura afirma que o número é pequeno e disse que a média do ano passado foi de 230 por dia.
Segundo relatório da SPTrans a que o JT teve acesso, as queixas mais frequentes neste ano e em 2008 foram: intervalo excessivo da linha (20%), motorista que não atende o sinal de embarque e desembarque (18%), conduta inadequada do operador (9%), conduzir o veículo com direção perigosa (9%) e tratar usuário com falta de urbanidade e destrato (6%).
Também aparecem no relatório reclamações sobre motoristas com sinais de embriaguez. Veículo superlotado, falta de limpeza dos carros, motorista conversando ao volante, mau estado de conservação do coletivo, demora na partida, luzes do letreiro apagadas à noite, motorista se recusar a prestar informações sobre o itinerário, ou interromper ou atrasar propositalmente estão entre os problemas apontados.
A campeã das queixas foi a linha 6291/10, que faz o trajeto Inocoop Campo Limpo ao Terminal Bandeira, ligando o extremo da zona sul ao centro da capital. A Central de Relacionamento com o Cidadão recebeu 380 reclamações de passageiros sobre essa linha.
A maioria dos usuários (310) ligou para reclamar que os ônibus descumprem ou não realizam partidas programadas. “Isso pode significar que a empresa não está cumprindo o total de viagens por trajeto acordado no contrato”, afirma o promotor Saad Mazloum, autor de um inquérito civil que apura a atuação da Secretaria Municipal de Transportes, que firmou os contratos com as empresas de ônibus, e a SPTrans.
Outros 44 passageiros que usam a linha 6291/10 queixaram-se também de intervalo excessivo entre os ônibus. “Se ao invés de passar dez vezes naquele trecho o ônibus passa apenas seis vezes, com certeza vai gerar superlotação, demora entre um veículo e outro, além de excesso de velocidade”, afirma Mazloum.
A doméstica Zelita dos Santos, de 46 anos, é uma das passageiras que se queixam da linha. Há 27 anos ela pega esse ônibus para ir da região da 9 de Julho, onde trabalha, para o Inocoop Campo Limpo, onde mora. “Estão sempre atrasados e lotados. Já está cheio e eles vão colocando mais gente. Também não param nos pontos e os motoristas e cobradores são mal educados”, enumera.
A linha é operada pela empresa Gatusa. Procurada pela reportagem, a viação não se manifestou. A SPTrans informou não ter como identificar o número de multas direcionadas à Gatusa, pois ela faz parte do Consórcio Sete e as multas são aplicadas ao consórcio, que as redistribui às companhias.
“Já fiz várias reclamações à SPTrans. Além de lotados, os ônibus dessa linha sempre estão cheios de barata”, reclama a auxiliar de enfermagem Sueli Blanco, de 49 anos. Acompanhada pela reportagem, a projetista Maria Juliana Faria, de 28 anos, tentou descer do Inocoop Campo Limpo/Bandeira em um dos pontos da 9 de Julho. Ela deu o sinal, mas o motorista não parou. Após gritar para o condutor abrir a porta, ela conseguiu descer alguns metros à frente do que pretendia e teve de caminhar para chegar a seu destino.
A segunda pior linha apontada no relatório da SPTrans é a 7598/10, que liga o Parque Continental, na divisa com Osasco, na Grande São Paulo, ao Anhangabaú, centro. Para o porteiro Rafael Jeferson, de 29 anos, que sempre pega o ônibus na República e desce na Consolação, o grande problema é que o coletivo está sempre lotado. “Ele nem demora tanto para passar. Fico esperando uns dez minutos. Mas sempre está cheio. Assim, fica difícil.”
Serviço
Onde reclamar: Por meio do blog do ônibus: www.onibus.blog.br
Ou pela Central SPTrans (sugestões, informações ou reclamações) no número 156 (funcionamento 24 horas)