O JT andou 777 quilômetros nas imediações das 31 subs e flagrou falta de calçamento, calçadas quebradas, lixo, ausência de lixeiras, camelôs, fios caídos e mato alto
Daniel Gonzales, Fábio Mazzitelli, Luísa Alcalde e Marici Capitelli
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Como as subprefeituras limpam e conservam o próprio quintal? A pergunta levou a uma jornada de duas semanas e 777 quilômetros da reportagem nas imediações das 31 subprefeituras paulistanas. Foi vistoriado um raio de até um quilômetro a partir de cada administração regional, tendo como norte uma lista com 32 das atribuições conferidas a subprefeitos, como conservação de guias, limpeza de bueiros, varrição, cata-bagulho, poda de árvores, contenção de margem de córregos e tapa-buracos. Flagrantes foram feitos na porta das sedes ou a poucos metros delas. Foi conferido também o cumprimento da Lei Cidade Limpa. Foram encontrados 139 problemas, como calçadas esburacadas, comércio irregular de ambulantes, lixo nas ruas e anúncios publicitários fora de padrão.
Vizinho à administração regional, Tendal da Lapa tem ar de abandono
Espaço de convivência reconquistado pela comunidade 20 anos atrás, por força de oficinas teatrais, o Tendal da Lapa fica no mesmo terreno da subprefeitura da região. São geminados, mas a proximidade não significa um cuidado extra do poder público. Pelo contrário. Há goteiras nos espaços teatrais e nas exposições. Além de não dar conta da chuva, o telhado de cimento vira estufa no calor. Na área em que fica a tenda de circo que dá nome ao local, há paralelepípedos amontoados, terra e buracos. “Só demos um tapa no telhado. O certo é fazer outra cobertura e reformar todo o Tendal. Precisaria de R$ 2 milhões. Não temos esse dinheiro. Teria que ser feito pela Secretaria de Cultura”, diz a subprefeita Soninha Francine.
Mas os problemas da Lapa vão além: bueiro entupido alaga a escadaria usada para atravessar a linha do trem, em dias de chuva; calçadas quebradas ao redor da quadra, incluindo as travessas sem saída que a limitam; vias do entorno da sub, como a Rua Vespasiano, com vários buracos ou remendos de asfalto que causam desníveis.
Na Subprefeitura de Pinheiros, o passeio público que a rodeia foi destruído em três pontos, tapados com tábuas de madeira. Terra e pedras retiradas desses pontos foram acomodadas na própria calçada, em grandes sacos abertos. Na calçada da Avenida Professor Frederico Hermann Júnior, fios e galhos de árvores se tornaram obstáculos a pedestres. No Butantã, foi possível ver buracos nas ruas e calçadas do entorno e sacos de lixo revirados sujando o passeio atrás do prédio da regional, na última quarta-feira. Em Perus, lixeiras só com a tampa em frente ao prédio da subprefeitura e, a cerca de 300 metros dali, comércio de camelôs na Praça Luís Neri, com muitas barracas com toldos que lembram uma versão em miniatura do antigo Largo da Concórdia, no Brás, hoje desocupado.
Lama, sujeira e até cavalo solto. E isso é só o começo
Das 11 subprefeituras da zona leste, a Cidade Tiradentes é a que apresenta mais problemas no seu entorno. Boa parte da Estrada do Iguatemi, onde se localiza o prédio da sub, está sem calçamento e o que existe se encontra quebrado e esburacado. Além de muita sujeira, as árvores plantadas em frente a sub estão secas. A reportagem flagrou até um cavalo solto pastando a cerca de 30 metros do prédio público.
Com aspecto abandonado também está um trecho da Avenida Jacinto Menezes Palhares a poucos metros da Subprefeitura Vila Prudente. Mato alto, calçada esburacada e sujeira se concentram, principalmente, em frente ao Clube Escola Vila Alpina que também é um órgão municipal.
Camelôs sem licença ocupam as calçadas da Rua Flores do Piauí, logo atrás da Subprefeitura de Itaquera. Entulhando o passeio público com os mais variados tipos de mercadoria, eles obrigam pedestres a andar no meio da rua. Quem quer frequentar uma área verde próxima a subprefeitura precisa tomar cuidado para acessar o local – os degraus da escada que dá acesso estão quebrados. As ruas também estão sujas.
A Estrada Itaquera-Guainases onde fica a Subprefeitura de Guaianases é um descaso: lixo, mato e propaganda irregular. Em São Miguel, um pedaço do muro está com o grafite pichado. Uma boca de lobo quebrada e árvores com as proteções detonadas estão bem em frente à Sub de Ermelino Matarazzo. Em compensação, ao redor da Sub da Mooca está tudo impecável.
CENTRO
Camelôs ‘siris’ resistem aos fiscais e o desrespeito à Lei Cidade Limpa é grande
Um número reduzido de camelôs resiste ainda entre as ruas Direita e 15 de Novembro, na região central, próximo à sede da Subprefeitura da Sé, que fica na Rua Álvares Penteado. São marreteiros vendendo produtos em toalhas estendidas no calçadão, os chamados “siris”.
Também é flagrante o desrespeito à Lei Cidade Limpa. Na Praça da Sé, o restaurante no número 48 tem tabuleta na lateral do imóvel com promoção do prato do dia. No mesmo endereço, também há calçada esburacada em frente ao Mercadão de Carnes Parisiene. Os buracos no calçamento se estendem desse ponto até a esquina da Rua Benjamin Constante.
No Café Senador, esquina da Praça da Sé com a Rua Senador Feijó, mais infração ao Cidade Limpa com placa lateral anunciando preços. Na José Bonifácio, o problema é o anúncio em letras garrafais na vitrine da Churrascaria Costela de Ripa, com rodízio a R$ 13,99. Na Rua da Quintanda o mesmo se repete no restaurante Garffus 77, que anuncia self service a R$ 1,99, 100 gramas. No Beco da Quintanda, mesma rua, número 71, a mesma irregularidade.
Na Rua Barão de Itapetininga, número 78, a loja Overboard também tem um anúncio garrafal de Bota Fora na vitrine. Já no entorno da Secretaria Municipal das Subprefeituras, no Viaduto do Chá, atrás do Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, bem perto de onde ficam o prefeito Gilberto Kassab e o secretário Andrea Matarazzo, há um “outdoor” imenso na parede da loja Kalunga Informática. A loja das Casas Bahia, bem em frente ao Teatro Municipal, antigo Mappin, também infringe a legislação, colocando em sua vitrine uma série de peças promocionais.Tem que andar pela vizinhança, diz secretário
REGIÃO SUL
Placas por toda parte e com vários camelôs no calçadão
A poucos metros da Subprefeitura de Santo Amaro, no Calçadão Capitão Tiago Luz, o comércio ambulante se forma após as 18h, quando os fiscais encerram o expediente. CDs piratas são testados em monitores LCD nas calçadas. Há por toda parte placas com preços de comida para fora das lojas, desrespeitando a Lei Cidade Limpa, caso da Lanchonete Floriano Chic, na Praça Salim. Na Marabraz, vizinha à sub, há o anúncio do “mês do gerente louco”, letras garrafais; nas Casas Bahia, tabuletas de promoção para fora da loja. Em M’Boi Mirim, cenário parecido: nos postes em frente à subprefeitura, anúncios “lambe-lambe”. A 100 metros, uma oficina mecânica ostenta na fachada uma faixa para cada serviço que presta.
Na Vila Mariana, a Escola Estadual Pedro Voss, na Rua Loefgreen, em frente à sub, está com a calçada esburacada, assim como a do Clube Desportivo Municipal Rubi, na José de Magalhães.
Em torno do Terminal Metropolitano de Ônibus, no Jabaquara, há comércio ilegal de alimentos e também rodoviária clandestina para o litoral. No Ipiranga,em frente ao número 860 da Rua Oliveira Alves, há desova de entulho. Na beira do córrego da Av. Carlos Caldeira Filho, no Campo Limpo, existe entulho e lixo. Por ali estão o bar e a garagem de veículos clandestinos. Em frente à EMEI Deputado Cyro Albuquerque, um buraco na calçada transforma-se em poça de água quando chove, obrigando os pedestres a andarem na rua.
REGIÃO NORTE
Buracos nas vias, calçamento quebrado e entulho em cinco das seis subprefeituras
A 100 metros da Subprefeitura da Freguesia/Brasilândia, os moradores não podem aproveitar a Praça Lions Club Imirim. Os bancos estão quebrados e, no lugar das plantas do jardim, só existe terra. Mais perto ainda, a 50 metros da subprefeitura, na Rua Lima Verde, há um buraco semelhante a uma valeta na via pública, um risco aos motoristas. Só há uma única lixeira, quase em frente ao local. Nos demais postes do bairro, ou não existem ou foram roubadas.
Em Santana/Tucuruvi, os ambulantes fazem a festa a cerca de 200 metros da sub na entrada da estação de metrô. Eles vendem de churrasquinho a CDs piratas. Em frente à subprefeitura, na Avenida Doutor Antonio Laet, há uma lixeira quebrada.
Na Rua Ernani Pinto, a 200 metros da Subprefeitura Vila Maria/Vila Guilherme, uma caçamba totalmente irregular, com inscrições ilegíveis, está junto do meio-fio. A calçada também está cheia de entulho. Um pouco mais adiante, há outro grande depósito de entulho na Praça Joaquim José da Nova.
Bem atrás do prédio da Subprefeitura Jaçanã/Tremembé a 100 metros, existe uma enorme valeta que causa riscos no cruzamento das ruas Elisa Teixeira de Barros com Eugênia Bresser. Na Avenida Luiz Stamatis, onde fica a sub, algumas lixeiras estão quebradas.
A 400 metros da Subprefeitura de Pirituba/Jaraguá existem vários buracos na Avenida Benedito Andrade. Imóveis vizinhos da subprefeitura estão com as calçadas completamente arrebentadas e cheias de mato e sujas (veja foto).
Quase tudo em ordem nas imediações da Subprefeitura Casa Verde. Apenas na Avenida Ordem e Progresso, ao lado desse órgão municipal, o asfalto apresenta vários trechos irregulares.