Secretário afirma que tirar “zeros” da cultura demanda tempo e recursos

 

Carlos Augusto Calil declarou ainda estar disposto a dialogar com moradores das regiões onde não existem equipamentos culturais

O secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, considera possível a instalação de, pelo menos, um equipamento cultural em cada subprefeitura da cidade de São Paulo. “Entretanto, isso demanda tempo e recursos”, ponderou. Ele se declarou disposto a se reunir com moradores das regiões onde os jovens não disponham desse tipo de instalação. “Às vezes temos dificuldade de identificar os interlocutores, mas não há nenhum impedimento para dialogar”, garantiu.

Acabar com os “zeros” de equipamentos públicos de todas as 31 subprefeituras é uma das principais propostas do Movimento Nossa São Paulo para o programa de metas da prefeitura de São Paulo. O Observatório Cidadão, que se encontra no portal do Movimento, registra um total de 19 subprefeituras sem pelo menos um dos equipamentos culturais listados, como centros culturais, cinemas, teatros e salas de show. Há 9 subprefeituras com indicador zero de livro infanto-juvenil per capta e dez com índice zero de livros para adultos per capta.

Calil relatou que sua pasta está construindo equipamentos de cultura na Cidade Tiradentes e Itaquera – regiões da Zona Leste de São Paulo. Adiantou ainda a existência de projetos para o extremo Norte e Extremo Sul na cidade. Mas reconheceu que "ainda é pouco, diante de toda a demanda reprimida da sociedade”. De acordo com o secretário, o projeto de ônibus-biblioteca é uma forma de minimizar o problema. “Sentimos que esses veículos são importantes, porque, quando um deles quebra, as pessoas reclamam.” 

Pais discordam de projeto sobre Escola Municipal de Iniciação Artística

As declarações do representante do Executivo sobre a proposta do Movimento Nossa São Paulo foram dadas logo após o encerramento da reunião da Comissão de Educação, Cultura e Esportes, realizada nesta quarta-feira (26/8), na Câmara Municipal.

O secretário foi convidado pela comissão para fazer uma exposição sobre dois projetos de lei que a prefeitura encaminhou recentemente à Casa: o que dispõe sobre a organização da Escola Municipal de Iniciação Artística – EMIA (PL433/09) e o que trata da reformulação da Biblioteca Mário de Andrade (PL 488/09).

Durante a exposição do secretário sobre a proposta para a EMIA, o que estava programado para ser uma audiência tranquila, transformou-se num debate apaixonado e emocional. Diversos pais, alunos e até ex-alunos protestaram contra o projeto, argumentando que ele não representa o desejo dos professores e dos freqüentadores da escola.

Entre os pontos apontados como negativos pelos participantes estão a terceirização da gestão, que passaria a ser gerenciada por uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), e a criação de dez cargos comissionados a serem preenchidos por indicação do Executivo. Além disso, os pais defendem que o conselho previsto no PL seja deliberativo e paritário. A proposta da prefeitura é que o órgão seja apenas consultivo e composto por quatro representantes da poder público municipal e três da sociedade civil.

“Esse projeto não é para a EMIA, é para outra escola”, afirmou Sandra Braga, mãe de dois adolescente que já frequentaram os cursos de iniciação artística e de um menino que ainda estuda no local. Ela fez um pronunciamento emocionado solicitando ao secretário que retire o projeto e aos vereadores que não o aprovem como está.

Diante da reação inesperada dos presentes, o secretário procurou tranqüilizar a comunidade. “O projeto vem para beneficiar a escola e os senhores não estão entendendo”, ponderou. Ele afirmou que a EMIA é um modelo e que “gostaria de ter uma escola desta em cada parque da cidade”.

Calil disse, ainda, que está disposto a conversar com pais e professores tanto no espaço da escola quanto no âmbito da Câmara Municipal. “Se o projeto de lei cria tamanha desconfiança, vamos tentar construir outra proposta que atenda as preocupações de vocês e as nossas”, propôs.

O vereador Eliseu Gabriel (PSB), presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esportes, também reafirmou a necessidade de diálogo para que o PL seja aperfeiçoado pelo Legislativo paulistano. “Porém, se o projeto for retirado, não poderemos continuar este debate aqui”, alertou. Segundo ele, a Câmara deverá convocar audiências públicas para que a sociedade possa apresentar suas propostas e sugestões. “Tem muitos projetos do Executivo que chegam a esta Casa e depois dos debates são modificados, incorporando diversos aperfeiçoamentos”, lembrou.

Na visão de Netinho de Paula (PCdoB), está faltando diálogo entre a prefeitura e a sociedade. "Não acredito que haja má intenção nas propostas do Executivo, mas a impressão que eu tenho é que elas não são debatidas com a população antes de serem encaminhadas para cá.”

A Escola Municipal de Iniciação Artística – EMIA, localizada no Parque Lina e Paulo Raia, ao lado da Estação Conceição do Metrô, tem quase 30 anos de existência. Atende atualmente cerca de 1.300 crianças de 5 a 12 anos, com aulas de teatro, de dança, música e artes plásticas.

Sobre a Biblioteca Mário de Andrade – que fica na região central da cidade – o secretário de Cultura informou que “a segunda maior biblioteca do país em acervo” deverá ter sua reforma e reorganização concluídas no próximo ano.  

REPORTAGEM: AIRTON GOES airton@isps.org.br

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