“Rio Tietê vira praia paulistana” – O Estado de S.Paulo

 

80 ativistas participaram de ato que lembrou os 18 anos da campanha pela despoluição

Mônica Cardoso

Esteiras, guarda-sóis, boias e pranchas de surfe. Só faltou o sol na "praia paulistana", que trocou o mar pelo Rio Tietê. A mobilização bem-humorada da SOS Mata Atlântica celebrou ontem o Dia do Rio Tietê. Em plena Marginal, cercados de buzinas e fumaça, 80 ativistas mostravam que pode ser possível integrar o rio à metrópole.

"Mais que um protesto, é um ato simbólico para marcar a data e despertar o interesse da população para o projeto de despoluição do rio", diz Mário Montovani, presidente da Fundação SOS Mata Atlântica. A campanha pela recuperação do rio começou em 1991, em uma parceria entre a fundação e a Rádio Eldorado. Juntas, elas recolheram um abaixo-assinado com 1,2 milhão de assinaturas e entregaram ao então governador do Estado, Luiz Antonio Fleury Filho. "As obras para a despoluição do rio começaram no ano seguinte, o que prova que a sociedade organizada consegue seus objetivos", diz Montovani.

Na primeira etapa de despoluição, de 1992 a 1998, foram construídas três novas estações de tratamento de esgoto – São Miguel, ABC e Parque Novo Mundo – e ampliada a capacidade da estação Barueri. A segunda fase, de 2000 a 2008, ampliou as redes de coleta de esgoto. A terceira etapa, prevista para começar no fim do ano e terminar em 2015, prevê a ampliação da coleta e do tratamento do esgoto, sobretudo na região metropolitana. As obras consumiram US$ 2,6 bilhões com recursos da Sabesp, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Houve sensível melhora na qualidade da água. No início do projeto, tínhamos uma mancha de poluição em torno de 270 km que foi reduzida em mais de 100 km. Além disso, o rio era bastante poluído em cidades como Salto e Conchas, no interior, e hoje está em melhor situação", explica Jesner Oliveira, presidente da Sabesp. Não há previsão de quando o rio possa ficar limpo, já que existem outros fatores para a poluição como o descarte de entulho e as ligações clandestinas de esgoto.

"O rio continuará poluído para uso de esportes aquáticos, assim como o Tâmisa, na Inglaterra, e o Reno, na Alemanha. Mas, com a melhora da qualidade da água e do aspecto do rio, será possível caminhar na beira do Tietê, o que humaniza as metrópoles", avalia Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas do SOS Mata Atlântica.

Por enquanto, o rio limpo continuará apenas na lembrança de alguns paulistanos, como Henrique Nicolini, de 83 anos. "Eu aprendi a nadar aqui quando tinha 10 anos. Aqui se realizavam as regatas dos clubes Esperia e São Paulo. O rio serpenteava, não era reto", conta.

 

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