“Tempo perdido no trânsito” – O Estado de S.Paulo

 

Os paulistanos perdem, em média, 2 horas e 43 minutos por dia no trânsito, segundo a pesquisa sobre mobilidade urbana, realizada a pedido do Movimento Nossa São Paulo, e divulgada há dias. Nos últimos 12 meses, essa perda de tempo aumentou em 13 minutos. Aumento da frota de veículos, ineficiência do transporte público e precariedade do planejamento urbano da capital são os motivos que levam o trânsito a figurar como um dos três principais problemas da cidade, juntamente com a Saúde e a Educação.

Nas últimas seis décadas, a população da capital quintuplicou, enquanto a frota de veículos registrada na cidade cresceu 80 vezes. Durante todo o ano de 1951, foram licenciados 1.146 carros na capital e os congestionamentos eram ocorrências raras. Hoje, 950 veículos são licenciados diariamente, entre carros, ônibus, caminhões e vans. Somente nos últimos 12 meses aumentou de 37% para 50% o porcentual de paulistanos que têm um ou mais veículos.

A solução para a melhoria do trânsito em São Paulo começa pela melhoria da qualidade do transporte público, o que exigiria uma verdadeira revolução, tanto no ritmo dos investimentos quanto nas relações do poder público com as empresas que prestam esse serviço à população. Ampliar as linhas de metrô, retomar a construção dos corredores de ônibus, terminais e estações de transferência do sistema e exigir das concessionárias qualidade no atendimento aos passageiros, cumprimento dos horários, renovação da frota e racionalidade dos itinerários seriam os pontos essenciais de uma política de enfrentamento do problema.

A pesquisa realizada pelo Ibope comprovou o crescimento da disposição dos paulistanos de deixar o carro em casa e usar o transporte público. Da amostra de 805 pessoas, 43% afirmaram que "com certeza" deixariam de usar transporte individual se pudessem contar com uma boa alternativa de transporte. Nos últimos 12 meses, aumentou de 24% para 35% o grupo de paulistanos que "provavelmente" deixariam o carro em casa.

A vontade de deixar de ser motorista para ser passageiro esbarra nas longas filas nos pontos de ônibus, no desconforto de viajar espremido nos veículos barulhentos e superlotados, na lentidão em percursos cada vez mais irracionais e no mau humor permanente dos motoristas e cobradores.

Segundo a pesquisa sobre mobilidade urbana, o tempo de espera nos pontos ou terminais e a lotação dos ônibus em São Paulo pioraram no último ano. Para 44% dos passageiros, o intervalo entre os ônibus aumentou, e, para 50%, os ônibus estão mais lotados.

Apesar da má qualidade do serviço, a pesquisa revelou que 22% dos entrevistados já têm o hábito de regularmente trocar o carro por transporte público, bicicleta ou carona. O estudo também mostrou o aumento de 20% para 28% do porcentual dos que utilizam os ônibus diariamente. O total de passageiros do metrô também aumentou de 6% para 13%; o dos trens, de 3% para 5%.

De janeiro a maio, a São Paulo Transporte (SPTrans), empresa que gerencia o sistema, recebeu 30.964 reclamações de passageiros de ônibus. As queixas mais frequentes são: intervalos excessivos entre os ônibus da linha (20%), motoristas que não atendem ao sinal de embarque e desembarque (18%), conduta inadequada do cobrador (9%), condução com direção perigosa (9%) e falta de civilidade no tratamento dos usuários (6%).

O aumento dos investimentos em transportes públicos para melhorar a circulação na cidade é pleiteado por 67% dos entrevistados na pesquisa. Evidentemente, a injeção de recursos só será eficaz se o poder público cobrar, das empresas concessionárias dos serviços de ônibus e das cooperativas de vans, o cumprimento dos índices de qualidade exigidos em contrato.

A população revela boa disposição de colaborar: 52% dos entrevistados são a favor da ampliação do rodízio para dois dias por semana (entre os que usam seus carros, o porcentual é de 44%). Mas essa colaboração só surgirá se o público sentir empenho da administração municipal em cumprir a sua parte.

 

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