Seminário resulta em propostas para transporte e mobilidade urbana

 

Participantes apresentaram diversas sugestões que serão debatidas na construção de um Plano Municipal de Transportes para São Paulo

Medidas para priorizar o transporte coletivo e iniciativas para melhorar as calçadas da cidade integram o conjunto de propostas apresentadas durante o seminário “A importância de um Plano Municipal de Transportes em São Paulo”, realizado nesta segunda-feira (21/9), no Espaço Tucarena (PUC/SP). O evento fez parte da programação do Dia Mundial Sem Carro.

As medidas operacionais foram pontuadas por Horácio Figueira, vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres e consultor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Ele defendeu, entre outras idéias, que a faixa reversível de automóveis na Radial Leste seja usada para a circulação de veículos de transporte coletivo, a proibição da entrada de táxi nos corredores ou faixas exclusivas para ônibus e a destinação de apenas uma faixa de rolamento nas grandes avenidas aos veículos particulares com apenas um ocupante.

O especialista citou dados de um estudo para demonstrar que a única saída para a cidade é priorizar o transporte coletivo. “Os veículos particulares transportam 48,63% das pessoas e ocupam 87,61% do viário da cidade, enquanto os ônibus transportam 51% das pessoas e ocupam 11,8% do viário”, comparou.

Asuncion Blanco, da Associação Viva Pacaembu, denunciou os problemas existentes nas calçadas da cidade e como a situação afeta o direito dos pedestres. “Aproximadamente 33% dos deslocamentos das pessoas em São Paulo são feitos a pé e muitas vezes o pedestre é empurrado da calçada para a via, onde passam os carros”, argumentou.

Para confirmar seu relato, ela mostrou diversas fotos de calçadas que impedem ou dificultam a passagem dos pedestres. Foram exibidas imagens de cabines de vigias que tomam toda a calçada, portões de garagem que invadem o espaço público, pisos irregulares, entre outros problemas.

Como parte das medidas para garantir o direito dos pedestres, Asuncion propõe uma campanha de conscientização, o cumprimento da lei que obriga a Eletropaulo a aterrar cinco quilômetros de fiação ao ano, começando por vias com calçadas fora do padrão, e a obrigatoriedade de os empreendimentos novos apresentarem croqui de calçadas à prefeitura para conseguirem a aprovação.

O professor de Economia da PUC/SP, Ladislau Dowbor, iniciou sua explanação com uma crítica bem humorada sobre a irracionalidade da cultura do automóvel, predominante na cidade. “Um estudo em Lisboa constatou que quanto mais carro na rua, mais demora o ônibus. E quanto mais demora o ônibus, mais as pessoas se cansam de esperar e decidem comprar um carro.”

Ele destacou que um Plano Municipal de Transportes deve levar em consideração os diversos impactos da iniciativa e citou o exemplo da Coréia do Sul, que estaria investindo 36 bilhões de dólares em um programa de transporte coletivo nos centros urbanos. “Com este investimento vão gerar 900 mil novos postos de trabalho, dinamizar a economia, melhorar a situação ambiental e climática e dar um salto tecnológico.”

O quarto debatedor, João Lacerda, da ONG Transporte Ativo, explicou o que é ser ciclista em São Paulo e os benefícios que a modalidade de transporte traz para quem a usa e para o município. “Bicicletas não poluem, contribuem para a saúde de quem pratica e servem para o lazer”. E concluiu: “São instrumentos excelentes para requalificar as cidades”.

O seminário, que integrava a programação preparatória para o Dia Mundial Sem Carro, foi mediado por Milton Jung, âncora da Rádio CBN. O jornalista lembrou que começou a participar de eventos relacionados à data em 2006 e revelou sua percepção sobre a situação do trânsito. “Antes de vir para cá, fiquei refletindo sobre o que mudou nesse período e umas das coisas é que levo mais tempo para chegar ao lugar do debate.”

Ao final do encontro, o coordenador da secretaria executiva do Movimento Nossa São Paulo, Maurício Broinizi, propôs a formação de um coletivo “para discutir uma proposta do Plano Municipal de Transportes, com metas, prazos e destinação de recursos”.

Broinizi convidou os participantes a continuarem o debate no próximo dia 6 de outubro, às 19h30, no Espaço Vitae Civillis (Rua Itápolis, 1.468 – Pacaembu). A idéia é reunir representantes da sociedade civil e cidadãos para, juntos, construir um plano que possa ser apresentado ao poder público, como sugestão para melhorar a cidade.

REPORTAGEM: AIRTON GOES airton@isps.org.br

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