Unidades do Poupatempo já possuem sistema digital para dar nota ao atendente
Governo estadual vai ampliar mecanismo para delegacias; funcionário com muitas reclamações pode ter de fazer reciclagem
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo de São Paulo começou a implantar um sistema que permitirá ao usuário do serviço público avaliar a qualidade do atendimento recebido.
O sistema, chamado "Sintonia", deverá atingir desde os atendimentos no Poupatempo até as delegacias de polícia.
A ideia se assemelha, em parte, aos questionários oferecidos por lojas de departamentos.
Depois de atender a pessoa, o funcionário oferecerá o equipamento para que o atendido em serviço público faça a avaliação (ótimo, bom, regular e ruim).
A avaliação será individual, para cada atendente. Para evitar constrangimento, somente o "cliente" verá o teclado.
O serviço já está disponível em 13 postos do Poupatempo e está em experiência no Departamento de Perícias Médicas do Estado, no pronto-socorro do Hospital do Servidor e em algumas unidades do Dose Certa. Os próximos, segundo o governo, serão as delegacias.
De acordo com o secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, todos os secretários do governo José Serra (PSDB) fazem um levantamento dos tipos de serviço que poderão ser avaliados. "Não é em todos os postos de trabalho que será possível implantar esse sistema. São aqueles que têm começo, meio e fim na mesma mesa."
O sistema medirá também o tempo de cada atendimento. O governo poderá saber em cada ponto no Estado quem é o funcionário, quantas pessoas atendeu, quanto tempo demorou com cada pessoa e qual foi a avaliação recebida.
O funcionário com muitas avaliações negativas poderá passar por programas de reciclagem e, até, sofrer sindicâncias. "O objetivo não é esse [de punir]. A intenção é melhorar o serviço", disse Beraldo.
Para o delegado José Leal, presidente do Sindicato dos Delegados, a intenção do governo é boa. "Não vejo possibilidade de resistência. Somos funcionários para servir", disse ele.
Ele diz, no entanto, que o governo precisa ter conhecimento das características de um trabalho policial para não cometer injustiças. Conhecer, também, a falta de estrutura e de efetivo em alguns setores.
O secretário-geral do sindicato dos trabalhadores da área de saúde, Hélcio Marcelino, disse que a pesquisa deveria ser feita por empresa independente para dar maior credibilidade.
"Vemos com bastante desconfiança. Tememos que joguem mais uma vez nas costas do servidor as mazelas do serviço público", disse Marcelino. Usuários ouvidos pela Folha elogiaram a iniciativa. "Não fui orientada [a fazer a avaliação].
Mas sempre que venho aqui sou bem atendida", disse a médica Maria Ines Valente, 63, no Poupatempo Santo Amaro.
A contadora aposentada Sandra Muniz, 57, também aprovou. "Não se pode mais chamar isso de Poupatempo. É tão cheio que precisaria de muito mais gente trabalhando para ter esse nome."