Novo valor se refere aos gastos totais por conta do empreendimento; obra foi anunciada por R$ 800 milhões em 2008
Gestão Serra cita elevação drástica em compensações ambientais, aumento em extensão de pistas e a inclusão de melhorias
ALENCAR IZIDORO
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A previsão de gastos divulgada pelo governo de São Paulo no projeto da Nova Marginal mais do que dobrou em menos de um ano e já se aproxima hoje de R$ 1,86 bilhão -o equivalente a 9 km em obras de metrô.
A última elevação na estimativa foi calculada na semana passada, quando as compensações ambientais exigidas aumentaram 250%: de R$ 52 milhões para R$ 182 milhões.
O governo José Serra (PSDB), que havia divulgado a ampliação da marginal Tietê no final de 2008 por R$ 800 milhões, afirma que a mudança não se deve ao aumento de contratos ou obras, mas à inclusão de intervenções no empreendimento global e que não eram previstas -antes, diz, eram 15 km de pistas; agora, 23 km.
Em junho passado, Serra assinou a ordem de serviço da Nova Marginal anunciando um desembolso de R$ 1,3 bilhão. Essa informação do "custo total do empreendimento" continua no site oficial do projeto.
Na prática, porém, essa será a quantia só com obras civis -porque, além da alta de gastos ambientais, a Dersa decidiu nos últimos meses "incluir melhorias", diz seu diretor de engenharia, Paulo Vieira de Souza.
Entre elas estão as reformas da sinalização da via (R$ 80 milhões), da iluminação (R$ 60 milhões) e a implantação de um centro de monitoramento (R$ 140 milhões), que beneficiam também a marginal Pinheiros.
Além da inflação (inferior a 4%), ele cita que a primeira estimativa envolvia só 15 km de pistas -que depois subiu para 23 km, com a inclusão das extremidades, a cargo de duas concessionárias de rodovias.
Diz também que houve um incremento de R$ 100 milhões com despesas na calha do rio, para evitar desassoreamento, porque a opção de fazer pontes estaiadas (que não teriam essa interferência) acabou alterada.
O diretor da Dersa declara ter sido pego de "surpresa" com as novas compensações ambientais exigidas pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente da prefeitura no último dia 13, incluindo a criação de parques e ciclovias ao longo do Tietê, da Penha até Itaquaquecetuba.
"A marginal tem a maior compensação ambiental do mundo. Como engenheiro, eu não queria devido ao custo da obra. Como cidadão, acho um espetáculo", diz Souza, citando que os gastos vão superar os R$ 88 milhões das mesmas despesas na alça sul do Rodoanel (projeto de quase R$ 5 bilhões).
A promotora Maria Amélia Nardy Pereira, que já tentou (sem sucesso) barrar na Justiça a construção, diz que decidiu pedir uma apuração do aumento dos custos ao setor de patrimônio do Ministério Público. Afirma que boa parte dos novos gastos estava no preço inicial.
O engenheiro Jaime Waisman, da USP, diz que, embora não seja "ideal", considera compreensível porque as intervenções não são supérfluas.
"É como reformar uma casa. Já que está fazendo isso, por que não aproveita pra fazer aquilo, já que surgiu dinheiro, já que depois fica mais caro."