Em todo o Brasil, frota aumentou 76,5% entre 2001 e 2009. Estados com mais de 3 milhões de veículos terão que controlar poluição.
Mariana Oliveira Do G1, em São Paulo
Entre 2001 e 2009, o Brasil ganhou mais de 24 milhões de carros, caminhões, motocicletas e outros veículos – uma alta de 76% na frota total. Mas em algumas das maiores cidades brasileiras, a expansão foi bem mais elevada: supera os 240%, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), vinculado ao Ministério das Cidades.
Na última terça-feira (20), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determinou que todas as cidades e estados com mais de 3 milhões de veículos adotem inspeção veicular obrigatória para controlar a poluição. Segundo especialistas, o aumento da frota está relacionado à permanência nas ruas de veículos antigos, mais poluentes que os novos.
O G1 fez um levantamento da evolução da frota em todas as capitais e nas cidades maiores de 400 mil habitantes considerando a estimativa da população feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste ano – ao todo são 58 municípios.
Em Aparecida de Goiânia (GO), a frota de veículos registrou incremento de 247% em oito anos. A capital tocantinense Palmas teve alta de 239% no mesmo período. Em São Paulo (SP), a frota de veículos aumentou 47% e no Rio, 34%.
A reportagem considerou o ano de 2001, a partir de quando os dados do Denatran estão disponíveis no site do órgão por município, e comparou com as informações mais recentes, de maio de 2009. Confira abaixo o resultado – as capitais estão em negrito.
Evolução da frota de veículos nas maiores cidades do país | ||||
Cidade | População 2009 | Frota 2001 | Frota 2009 | Evolução da frota |
Aparecida de Goiânia (GO) |
510.770 |
37.375 | 129.760 | 247% |
Palmas (TO) | 188.645 | 27.219 | 92.290 | 239% |
Macapá (AP) | 366.484 | 29.122 | 75.743 | 160% |
Ananindeua (PA) | 505.512 | 22.110 | 54.776 | 147% |
Belford Roxo (RJ) | 501.544 | 19.313 | 47.277 | 144% |
Porto Velho (RO) | 382 829 | 50.192 | 121.085 | 141% |
Serra (ES) | 404.688 | 44.537 | 102.246 | 129% |
Boa Vista (RR) | 266.901 | 40.207 | 91.867 | 128% |
Feira de Santana (BA) | 591.707 | 60.050 | 133.966 | 123% |
Betim (MG) | 441.748 | 45.621 | 99.099 | 117% |
Rio Branco (AC) | 305.954 | 39.796 | 85.389 | 114% |
Teresina (PI) | 802.537 | 109.811 | 227.516 | 107% |
Manaus (AM) | 1.738.641 | 185.647 | 383.933 | 106% |
São Luís (MA) | 997.098 | 99.759 | 201.702 | 102% |
São Gonçalo (RJ) | 991.382 | 81.202 | 152.478 | 87% |
Vila Velha (ES) | 413.548 | 73.796 | 138.034 | 87% |
Cuiabá (MT) | 550.562 | 120.658 | 224.838 | 86% |
Mauá (SP) | 417.458 | 71.871 | 132.027 | 83% |
Guarulhos (SP) | 1.299.283 | 211.974 | 386.927 | 82% |
João Pessoa (PB) | 702.235 | 107.129 | 191.769 | 79% |
Joinville (SC) | 497.331 | 139.088 | 247.143 | 77% |
Campo Grande (MS) | 755.107 | 194.006 | 341.772 | 76% |
Contagem (MG) | 625.393 | 114.844 | 203.067 | 76% |
Osasco (SP) | 718.646 | 147.165 | 258.506 | 75% |
Duque de Caxias (RJ) | 872.762 | 80.766 | 141.217 | 74% |
Campos dos Goytacazes (RJ) | 434.008 | 69.959 | 120.737 | 72% |
São João de Meriti (RJ) | 469.827 | 44.297 | 75.641 | 70% |
Brasília (DF) | 2.606.885 | 645.133 | 1.096.293 | 69% |
Belém (PA) | 1.437.600 | 145.237 | 246.777 | 69% |
Natal (RN) | 806.203 | 144.291 | 241.619 | 67% |
Nova Iguaçu (RJ) | 865.089 | 77.399 | 128.582 | 66% |
Jaboatão dos uararapes (PE) | 687.688 | 61.644 | 102.519 | 66% |
Sorocaba (SP) | 584.313 | 169.815 | 280.319 | 65% |
São José dos Campos (SP) | 615.871 | 170.636 | 281.049 | 64% |
Florianópolis (SC) | 408.161 | 140.973 | 232.087 | 64% |
Ribeirão Preto (SP) | 563.107 | 212.455 | 346.411 | 63% |
Belo Horizonte (MG) | 2.452.617 | 706.480 | 1.149.737 | 62% |
Uberlândia (MG) | 634.345 | 161.842 | 263.021 | 62% |
São José do Rio Preto (SP) | 419.632 | 154.256 | 251.433 | 62% |
Caxias do Sul (RS) | 410.166 | 131.289 | 213.480 | 62% |
Salvador (BA) | 2.998.056 | 352.606 | 568.148 | 61% |
Maceió (AL) | 936.314 | 108.440 | 174.735 | 61% |
Vitória (ES) | 320.156 | 91.983 | 147.401 | 60% |
Fortaleza (CE) | 2.505.552 | 382.554 | 609.312 | 59% |
Goiânia (GO) | 1.281.975 | 482.260 | 769.165 | 59% |
Curitiba (PR) | 1.851.215 | 733.192 | 1.154.438 | 57% |
Londrina (PR) | 510.707 | 168.107 | 264.464 | 57% |
Campinas (SP) | 1.064.669 | 406.001 | 623.001 | 53% |
Juiz de Fora (MG) | 526.706 | 103.459 | 157.681 | 52% |
São Bernardo do Campo (SP) | 810.979 | 270.055 | 405.728 | 50% |
Recife (PE) | 1.561.659 | 288.020 | 427.861 | 48% |
São Paulo (SP) | 11.037.593 | 4.027.184 | 5.951.686 | 47% |
Santo André (SP) | 673.396 | 262.538 | 376.152 | 43% |
Santos (SP) | 417.098 | 156.524 | 218.715 | 39% |
Porto Alegre (RS) | 1.436.123 | 481.914 | 653.329 | 35% |
Rio de Janeiro (RJ) | 6.186.710 | 1.394.679 | 1.882.679 | 34% |
Niterói (RJ) | 479.384 | 141.836 | 190.529 | 34% |
Aracaju (SE) | 544.039 | 155.278 | 175.321 | 12% |
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Departamento Nacional de Trânsito |
O especialista em trânsito Cyro Vidal, que foi diretor do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de São Paulo por dez anos e participou da elaboração do Código Brasileiro de Trânsito diz que na Região Centro-Oeste e no Norte, alguns estados dão isenção do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) no primeiro ano para carro zero, e isso pode motivar o emplacamento nesses locais, o que explicaria a alta expressiva da frota.
"Mas acredito que a principal explicação é o crescimento da atividade econômica desses locais, geralmente ligado a compra de caminhonetes para a agricultura", completa Cyro Vidal.
O superintendente de Trânsito de Aparecida de Goiânia, Valdemir Souto, confirma que a melhora da economia é uma das explicações para a expansão de 247% da frota na cidade, mas há, segundo ele, um motivo principal.
"Somos vizinhos da capital (Goiânia) e muitos moradores tinham carro emplacado lá. Fizemos uma campanha, que começou há oito anos, para que as pessoas passassem a emplacar aqui. Para a cidade era muito importante para aumentar a arrecadação, já que 50% do IPVA vai para o município", afirma Souto.
Poluição
Para Cyro Vidal, um dos principais problemas da evolução expressiva na frota é que não ocorre a devida retirada dos veículos mais antigos, responsáveis pela poluição veicular e, consequentemente, por danos ao meio ambiente.
Uma das possíveis soluções, na avaliação de Vidal, pode ser a inspeção veicular. No entanto, somente a cidade de São Paulo e o estado do Rio já têm programas de inspeção.
A resolução aprovada no Conama que estende o controle da poluição para outros estados deve ser publicada no "Diário Oficial da União" em até 20 dias, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. A partir de então, os todos os estados terão prazo de 12 meses para apresentar um Plano de Controle de Poluição Veicular, que definirá frota alvo e como será o controle, por exemplo.
Somente serão obrigados a efetivamente implantar a inspeção cinco estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná – e a cidade de São Paulo, todos com frota maior do que 3 milhões de veículos. Confira abaixo a frota de cada estado.
O ex-diretor do Detran de São Paulo Cyro Vidal disse que a inspeção só fará diferença se for feita também com frota antiga, com mais de 10 anos. "Em São Paulo, por exemplo, participam os veículos a partir de 2003. Além de uma concepção mais moderna sobre meio ambiente, os mais novos têm equipamentos antipoluição. A preocupação deveria ser com a frota antiga e com a frota do transporte coletivo, que solta muita fumaça."
O G1 procurou a secretaria municipal de meio ambiente em São Paulo para comentar, mas não obteve resposta.
Para Vidal, é preciso discutir o que fazer com veículos que não têm mais condições de rodar nas cidades. "Eles não têm lugar para colocar esses veículos antigos. O problema é esse. Mas o problema deve ser discutivo."
Na avaliação do presidente da Câmara Técnica de Controle e Qualidade Ambiental do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), Volney Zanardi, assessor técnico do Ministério do Meio Ambiente, cada estado ou cidade terá liberdade para estabelecer a frota que será alvo da inspeção.
"O objetivo da resolução é melhorar a qualidade do ar. O que vai definir os parâmetros do controle é cada plano. E cada um levará em consideração as condições de ventilação da cidade, por exemplo, que são bem diferentes. A resolução é o começo, ela não é a solução do problema", afirma Zanardi.
Planos
O G1 entrou em contato com a cidade de São Paulo e os cinco estados com mais de 3 milhões de veículos para saber como será a inspeção.
O estado do Rio Grande do Sul informou que em breve formará uma comissão para iniciar a discussão do plano de controle. A assessoria de imprensa disse que deve ser feita uma parceria com o Detran e a expectativa preliminar é de que os veículos que não passarem nos testes deverão se adequar sob pena de não obter o licenciamento.
Em Minas Gerais, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), informou que a estratégia inicial da proposta para o estado prioriza a inspeção na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Outra proposta é que os veículos movidos a diesel e as motocicletas, "os potenciais maiores emissores de gases poluidores", sejam os primeiros a serem verificados.
A secretaria de Meio Ambiente do Paraná disse que já discute há algum tempo um programa de controle de poluição dos veículos e que já iniciou a articulação com entidades e principais cidades para elaborar o plano.
Em São Paulo, a Secretaria do Meio Ambiente da cidade informou, em nota, que a experiência no município foi "base" para a aprovação da resolução do Conama. Afirmou que as novas regras, que preveem limites mais rigorosos para poluição ambiental e sonora, devem aumentar o ganho ambiental da capital paulista.
A assessoria de imprensa da secretaria estadual de São Paulo disse que não conseguiu obter informações sobre o plano de controle. No Rio de Janeiro, a secretaria não respondeu ao pedido do G1.