PING PONG – PHILIP GOLD, ESPECIALISTA EM SEGURANÇA NO TRÂNSITO
Naiana Oscar
Philip Gold é consultor internacional de segurança no trânsito, com estudos desenvolvidos para o Banco Mundial e para o Banco Interamericano de Desenvolvimento, especialmente sobre deslocamentos a pé. Gold é autor da mais extensa pesquisa sobre as calçadas paulistanas, realizada em 2003, em 120 quarteirões da cidade.
Que nota o senhor daria para as calçadas de São Paulo?
Não dá para dar nota porque varia muito. Vai de 10, nos lugares onde foram feitos passeios novos nos últimos 2 anos, a zero, nos bairros em que nem há calçamento. A situação, em geral, é muito crítica.
Quais são os principais problemas?
O que acontece em São Paulo e na maior parte do Brasil é que cada proprietário tem responsabilidade por seu passeio e faz um pedacinho de calçada. O vizinho faz outros 15 m com outro padrão de qualidade, numa outra época… e vira essa meleca. O maior problema é que a responsabilidade não é da Prefeitura.
O senhor defende, então, que o município deve reformar as calçadas?
Sim, porque as calçadas em locais de travessia constituem uma rede para circulação a pé. É uma rede pública da mesma forma que os corredores de ônibus são rede para ônibus e o metrô é uma rede para trens. Todas as outras redes são feitas exclusivamente pela Prefeitura porque são serviços públicos. Calçadas e travessias deveriam ser vistas da mesma forma.
Quais as implicações de não haver calçadas seguras e acessíveis em São Paulo?
Isso é grave porque nas calçadas as pessoas podem sofrer ferimentos. Dados do Hospital das Clínicas mostram que as pessoas se ferem mais tropeçando nas calçadas do que sendo atropeladas. Nove em cada mil paulistanos já se acidentaram em calçadas. O custo é alto e não é contabilizado como acidente de trânsito, porque estavam caminhando. Quando os governos montam programas de segurança de trânsito, com a possibilidade de financiamento, as quedas em calçadas não entram como justificativa para investimentos.
