Pesquisa do Metrô revela excedentes em trajetos na capital; semáforos, lentidão e acidentes alteram ‘metas’
Renato Machado
Um trajeto perfeito no transporte coletivo seria feito sem congestionamentos, sem semáforos fechados e na menor distância possível – como em uma linha reta. Uma viagem entre a Vila Mariana e o Morumbi, ambos na zona sul de São Paulo, por exemplo, duraria 44 minutos. Mas esse cenário está longe da realidade e os passageiros levam em média o dobro do tempo. Os 44 minutos "extras" são as chamadas carências, que ocorrem em 75 dos 96 distritos paulistanos, segundo a pesquisa do Metrô Carências do Transporte na Região Metropolitana de São Paulo.
O estudo inédito é um desdobramento da mais recente pesquisa Origem e Destino (OD). Para chegar ao cálculo do tempo ideal, utiliza-se uma fórmula matemática que leva em conta a distância entre os dois pontos. Os técnicos do Metrô então realizaram uma comparação dos valores obtidos com a média de tempo que realmente se leva nos deslocamentos – dados saídos da OD. A diferença obtida é o tempo de carência.
"Os altos valores de carência são decorrentes de interferências no sistema viário, como congestionamentos, acidentes e semáforos", afirma a técnica do Departamento de Planejamento do Metrô e uma das coordenadoras do estudo, Maria Cecília Andreoli Oliveira. "Influem também problemas na oferta do transporte, como grande tempo de espera no ponto ou de transferência."
O estudo apontou que, em média, os deslocamentos na cidade de São Paulo são 21 minutos acima do ideal. Os 71 distritos com problemas apresentam a carência mais crônica, com acréscimos superiores a 20 minutos nos deslocamentos que se encerram em pelo menos uma de suas zonas – a pesquisa considera uma subdivisão dos distritos, que são compostos por cerca de quatro áreas em média. Em alguns casos, a carência é superior ao tempo considerado ideal, como por exemplo em um trajeto entre a Vila Mariana e o Jaraguá, na zona oeste, que leva em média 169 minutos, quando o tempo ideal é de 78 minutos – 1h30 de acréscimo.
CENTRO
Ao se levar em conta os destinos finais para os cálculos, as carências acima de 25 minutos ficam concentradas principalmente na região do centro expandido da capital, apesar de geralmente apresentar boa oferta de transporte público. Especialistas afirmam que a aparente contradição é explicada pelo grande volume de viagens que o centro recebe, provocando congestionamentos e lentidão nos embarques nos trens.
"É consequência do processo de "periferização" da sociedade. As pessoas foram morar nas bordas, só que os empregos continuam na região central, o que provoca uma grande migração diária. E o fim da viagem é mais abastecido de transporte público, mas, no início, na periferia, há poucos corredores e os ônibus são mais lentos", afirma o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Aílton Brasiliense.
O bancário Israel Nobre de Oliveira, de 28 anos, gasta todos os dias aproximadamente 1h30 no trajeto de sua casa para o trabalho, entre Ermelino Matarazzo (zona leste) e Conceição (zona sul). A primeira parte do trajeto é feito de lotação até a Estação Vila Matilde, quando toma o Metrô, faz baldeação na Sé e segue pela Linha 1-Azul até seu destino final. O tempo de viagem descrito por ele é bem próximo da média apontada pelo estudo – 86 minutos – mas acima dos 64 minutos considerados ideais. "O tempo perdido deve ser quando espero uns dois trens passarem para conseguir entrar, por causa da lotação."
A carência também atinge bairros nobres da cidade, como Moema e Vila Olímpia, ambos com acréscimo de 44 minutos. Os menores índices estão principalmente ao longo de linhas de metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) ou de corredores de ônibus.