Economistas buscam revisar os indicadores econômicos para levar em conta questões ambientais e qualidade de vida
Martha San Juan França
mfranca@brasileconomico.com.br
Para a maioria das pessoas, as limitações do Produto Interno Bruto (PIB) como indicador do desenvolvimento econômico de um país não chega a onstituir um problema. Mas há muito tempo que economistas e planejadores constataram que o cálculo não reflete de modo adequado o bem-estar geral das pessoas e nemmesmo as atividades demercado. As contradições desse tipo de medida foram apontadas, entre outros, por dois prêmios Nobel, Amartya Sen(1998) e Joseph Stiglitz (2001),não por acaso convidados pelo presidente francês Nicolas Sarkosy para revisá-la. À frente de um grupo de especialistas, eles formaram a Comissão Stiglitz-Sen, cujo relatório final foi divulgado há cerca de um mês.
Avaliação líquida
A comissão sugere que os novos indicadores da economia devem levar em conta o desempenho de setores como saúde e educação, atividades não remuneradas como o trabalho doméstico,e o padrão de vida das pessoas. Uma inovação proposta pelo relatório é a avaliação líquida e não bruta das atividades econômicas, de modo a considerar as extrações de recursos naturais, os impactos ambientais gerados pela produção e a utilização dos estoques no resultado. Além disso, estabelece critérios para medir a qualidade de vida das pessoas, como condições de trabalho, lazer,moradia, segurança, convívio social,saúde e educação.
“Cálculos desse tipo são relevantes porque levam em conta indicadores sociais e ambientais”, afirma o economista Ladislau Dowbor, da PUC de São Paulo. Ele lembra uma outra medida, que ficou conhecida pelo nome de Felicidade Interna Bruta (FIB), além de iniciativas de cidades como Bogotá, na Colômbia, adaptada na capital paulista pelo Movimento Nossa São Paulo, composto de organizações da sociedade civil que estabeleceram metas de desenvolvimento para a cidade.
Um dos maiores entusiastas do trabalho da Comissão Stiglitz-Sen é o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), José Eli da Veiga, que deve lançar durante o encontro mundial do clima, em Copenhague, em dezembro,o livro Mundo em Transe: do Aquecimento Global ao Ecodesenvolvimento.
No livro, ele explica que,qualquer que seja o resultado da discussão sobre as limitações de emissões de gases do aquecimento global, a economia vai mudar. “Essa mudança já começou há muito tempo e independe da seriedade da crise climática”, diz. “Inevitavelmente, terá de ser acompanhada de uma mudança na maneira de considerar a riqueza global.”