“Consumidor desconfia de empresas” – O Estado de S.Paulo

 

Nível de consciência varia do comprometido ao crítico, mas há espaço para tomada de ação no dia a dia

Fernanda Fava

Dedicados, passivos, céticos, descompromissados e críticos. O estudo Sustainable Futures 2009, feito em dez países, traçou cinco tipos diferentes de consumidores, classificando de acordo com o grau de engajamento em relação à sustentabilidade.

O grupo dos dedicados, consumidores engajados e que traduzem seu compromisso nos seus atos de compra, é a maioria no Brasil: representa 36% dos consumidores, enquanto a média dos países pesquisados é de 22%. Em seguida vêm os passivos (17% no Brasil e 16% nos demais mercados), consumidores que tem um maior nível de ativismo, mas acham que seu impacto é pequeno.

Há também os céticos, que desconfiam das boas práticas das corporações, mas não chegam a boicotá-las: são 13% dos consumidores no Brasil e 21% nos demais mercados. Os descompromissados são 20% do universo brasileiro (22% no mundo) e mostram um comportamento ambivalente: podem se engajar, mas de modo geral não estão atentos à sustentabilidade. O último grupo, dos críticos, mostra um consumidor questionador acerca das ações das empresas e disposto a boicotá-las. São 14% no Brasil e 21% nos demais mercados.

O Estado foi a campo para saber o que pensam os consumidores paulistanos. Confira, nesta página, cinco exemplos baseados nos perfis da pesquisa.

Perfis

Dedicado
Engajado em ações concretas, é consciente na hora de consumir

"Incentivo a coleta seletiva, não poluo a rua, economizo água. Gostaria de ter mais tempo para me dedicar a alguma causa. Vejo a ação das empresas de forma positiva. Na minha empresa, a gente investe nas crianças, na formação de cidadãos mais conscientes. Algumas ações deveriam ser mais incentivadas e divulgadas. Assim como eu fico impressionada ao saber delas, outras pessoas também podem se impressionar. Para mim, isso faz diferença na hora de escolher o que comprar. Poderia, por exemplo, pagar mais por um produto se soubesse que aquela empresa tem ações sustentáveis, mas depende de quanto mais caro: quero saber exatamente pelo que estou pagando."

Eliana Faro
59 anos, empresária

Passivo
Tem engajamento, mas não acredita no seu poder para fazer a diferença

"As pessoas abusam das mordomias e não param para pensar que tudo isso é muito prejudicial. Sou contra plástico. Acabo sendo obrigada a usar, mas, na minha casa, não uso. Tenho sacolas de pano. Muita coisa poderia ser feita, inclusive por mim, mas às vezes não tem como, apesar de eu tentar. As empresas têm responsabilidade, mas 50% é da população. As empresas poluem também, claro. Precisam ser mais fiscalizadas. São tão poucas as que tomam atitude que a gente não enxerga. Deveriam ter mais destaque. Se uma fábrica está poluindo, por que não boicotar? Para mim, uma empresa consciente faz diferença, sim. Se hoje está assim, imagina daqui a 30 anos."

Vilma Monteiro
37 anos, florista

Cético
Suspeita das empresas, mas pode ser convencido a participar mais

"A vida hoje é um caos, por isso as pessoas têm que aprender a conservar a natureza. Tem que pensar no futuro das crianças. Lá em casa, gostamos de plantar árvores, fazemos a separação do lixo. Não sei se há outras coisas que eu possa fazer para ajudar. A participação das empresas é muito importante. Não tenho o hábito de prestar atenção nas empresas que fazem ações na prática, até porque não vejo TV e me irrito com propaganda, mas é bom que divulguem. Acredito que tem ações legais e já tem muita gente lutando por isso. Acho que o preço mais caro vale. Sei que a verdura, por exemplo, é difícil de conservar sem agrotóxico porque tem muita praga, então ela fica mais cara."

Nilza Hacker
63 anos, dona de casa

Crítico
Questiona o compromisso de empresas e não toma atitudes na prática

"A conscientização é a melhor ação. Somos indisciplinados por natureza. Tem que educar para mostrar que os recursos não são infinitos. Algo que eu gostaria de fazer é usar menos plástico. Você vem na feira e precisa usar o plástico para embrulhar. Quem está liderando a campanha contra as sacolinhas são os supermercados. Não é por idealismo, e sim por economia, porque gastam muito com embalagens plásticas. Para mim, existe a empresa consciente e a que só quer ganhar dinheiro. Quem faz publicidade normalmente são os mentirosos. Um artigo orgânico custa o dobro ou o triplo de outro normal, e às vezes não há garantias de que seja mesmo orgânico ou natural."

João Durval Leonel
66 anos, aposentado

Descompromissado
Age conforme a tendência e costuma ter baixo nível de consciência

"O meio ambiente é importante, mas não penso sobre isso. Não tomo atitude prática – só na gráfica onde trabalho, que tem essa preocupação; em casa, não faço nada. Poderia fazer, talvez reciclar, ajudar a manter a cidade mais limpa. Mas é questão de costume: não tenho o hábito. Não sei qual é o papel das empresas, o quanto elas poluem, mas acho que têm um papel mais importante que a sociedade, porque causam mais efeitos. Talvez as empresa que preservam a natureza façam a diferença para quem vai consumir. Mas não lembro de ter escolhido um produto porque era ecologicamente correto. Acho que consumiria, mesmo se fosse mais caro."

Luan Figueiredo
19 anos, auxiliar gráfico

Compartilhe este artigo