A luta por uma educação cada vez mais esportiva, inclusiva e avessa aos parâmetros antiquados existentes no Brasil há um punhado de séculos. Esse foi o norte da discussões que permearam a manhã deste sábado, 7, durante o 2º Fórum Nacional da Caravana do Esporte e da Música, no Starhfish Ilha de Santa Luzia, localizado na Barra dos Coqueiros.
Com o tema ‘O jogo, um Fenômeno Cultural – Música, Dança e Esporte enquanto Manifestações do Jogar’, o doutor em psicologia educacional João Batista Freire explanou de forma inteligente e bem humorada a necessidade do esporte para o desenvolvimento educacional e moral de uma criança. Em meio as suas argumentações, João Batista foi enfático ao afirmar que a melhor educação é aquela que ensina a trabalhar e a brincar ao mesmo tempo, sem precisar obrigar o aluno a fazer o que não quer.
Para ele, a formação do magistério brasileiro é falha. “Se os nossos professores não melhorarem a forma como ensinam, não adianta tanto esforço. Para aprimorar é preciso se esforçar, senão, não sairemos do zero”, completou, defendendo a tese de que não adianta pegar uma criança e tentar ensinar futebol. Para ele, é mais fácil ensiná-la chamando para brincar de futebol, numa alusão à mudança de paradigma perante o modo de ensino dos professores.
Realizado numa iniciativa da emissora de TV ESPN, em parceria com os Institutos Esporte e Educação e Sol da Liberdade, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o evento segue até este domingo, 8, conta com o apoio dos Governos de Sergipe e Federal, Fundação Telefônica, Unibanco, IBM e CCR. Além de João Freire, as atividades da manhã tiveram a participação da presidente do Instituto Esporte e Educação, Ana Moser, do antropólogo Tião Rocha, do coordenador da Secretaria Executiva do Movimento Nossa São Paulo, Maurício Broinizi Pereira, do biólogo Flávio Bassi, e do ex-jogador de futebol, Sócrates.
O indígena Edio Felipe Valério, da etnia Terena e natural do Mato Grosso do Sul, disse que o fórum é uma oportunidade de trocar conhecimentos. “Temos esse trabalho lá também e o fórum vem enriquecer a nossa integração cultural e trazer dinâmica de outras comunidades, está sendo muito bom”, disse.
Mesa redonda
A ‘Necessidade de Transformar’ foi o mote da mesa redonda mediada por Flávio Bassi e pelos convidados Ana Moser, Tião Rocha e Maurício Broinizi. Numa discussão coerente e com o mesmo propósito de querer mudar os pilares da educação, os convidados deram um recado a todos os responsáveis pelo ensino no Brasil: a transformação é fundamental.
Em sua argumentação, Tião Rocha provocou a plateia ao dizer que é possível fazer educação sem escola, se possível, debaixo de um pé de manga. “Será possível educar sem as quatro paredes de uma escola? Como seria a escola que gostaríamos de ter? A educação é uma troca de conhecimentos e só é possível fazer boa educação com bons educadores. Com bons educadores até debaixo de uma mangueira dá resultados. Será que é possível as crianças aprenderem brincando ou será que a escola vai continuar sendo um serviço militar obrigatório aos sete anos?”, indagou Tião.
Para Maurício Broinizi, a construção de uma força política social ajudaria a fomentar o processo educacional no país. “Precisamos de espaços para dialogar sobre o tema. Precisamos de políticas públicas e sociais para ajudar a educação em detrimento do acompanhamento cidadão”, afirma.
Segundo a presidente do Instituto Educação e Cultura, Ana Moser, o esporte é um fator chave na dinâmica de trabalho intencional para criança e adolescente. “Trabalhamos não só a cabeça das crianças e jovens, mas a dinâmica e a relação entre as pessoas. E o Fórum é também um momento de fortalecimento dos municípios, num momento de estar legitimando esse conteúdo e conhecimento para desenvolver os trabalhos”, ressaltou.
O ex-jogador de futebol Sócrates, que defendeu a Seleção Brasileira de Futebol em duas Copas do Mundo (1982 e 1986), participou do evento e reforçou a idéia de que é possível educar sem os cabrestos da sala de aula. “A gente só vira gente com conhecimento, mas é preciso pensar também que esse conhecimento não está apenas na sala de aula. As ruas, muitas vezes, dão conhecimento. Portanto, a educação é um processo múltiplo e não pode ficar restrita à sala de aula”, salientou.