Os feridos em colisões na capital caíram de 22 mil para 18 mil
Marici Capitelli e Naiana Oscar
O número de mortes em acidentes de trânsito voltou a subir na capital paulista, segundo dados mais recentes da Secretaria da Segurança Pública (SSP). No terceiro trimestre deste ano, se comparado ao mesmo período do ano anterior – que coincide com o início da lei seca, implementada em junho de 2008 -, o aumento foi de 15%. Entre janeiro e junho, a cidade tinha registrado queda de 1,1%.
De acordo com a Polícia Militar, ainda é cedo para concluir que o aumento é motivado pela perda de força da lei seca, uma vez que as ocorrências são motivadas também por outros fatores, além da embriaguez. "As condições das vias, a iluminação e a conscientização do motorista extrapolam a função policial", explica o capitão Sérgio Marques.
Entre janeiro e setembro, 542 pessoas morreram no trânsito paulistano – duas por dia. No mesmo período, outras 18 mil ficaram feridas – ou 18% a menos do que no ano passado.
Nos últimos meses, a lei seca teve a fiscalização ampliada, o que contrasta com o aumento no índice de mortes. Em julho, a polícia mudou o esquema das blitze para realizar mais testes de bafômetros em menos tempo. Agora, o motorista nem precisa sair do carro para soprar o etilômetro e é chamado para uma vistoria mais detalhada quem estiver embriagado. Com isso, a quantidade de abordagens quadruplicou. Foram 75 mil até o início deste mês.
Para o ortopedista Marcos Musafir, consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), os números de mortes em São Paulo mostram que só a lei seca não é capaz de zerar as ocorrências e que o poder público deve focar em outros fatores para conseguir reduzir a mortalidade no trânsito. "A maior frota do País, motociclistas entre carros, excesso de velocidade: tudo isso expõe as pessoas ao risco e facilita o número de colisões", diz.
Maria Sumie Koizume, professora da USP e pesquisadora da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), critica a falta de campanhas continuadas sobre os riscos de beber e dirigir. Para ela, é necessário focar no tripé "legislação, fiscalização e educação".
Ela lembra que quando a obrigatoriedade do cinto de segurança entrou em vigor, foi maciça a campanha educacional. Por isso, o reflexo é percebido até hoje nas ruas. O psiquiatra Arthur Guerra, presidente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), defende que, a curto prazo, é o medo da multa que faz com que as pessoas respeitem a lei, até que o hábito seja efetivamente incorporado. "O que tenho percebido é que muitos jovens estão respeitando a lei."