II Seminário Conexões Sustentáveis faz balanço de um ano da iniciativa

 

Algumas empresas já tomaram medidas concretas, impactadas pela pesquisa apresentada no primeiro encontro, realizado no ano passado; prefeitura de SP diz que comitê vai começar a acompanhar compras

“É fundamental discutirmos as relações entre o maior centro consumidor da América Latina e o maior laboratório de desenvolvimento sustentável do mundo. É um tema da maior importância se queremos construir conexões realmente sustentáveis e socialmente mais justas”. Essa e outras declarações do economista polonês Ignacy Sachs, diretor do Centro de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, abriram o II Seminário Conexões Sustentáveis: São Paulo–Amazônia, realizado nesta quinta-feira no Sesc Vila Mariana.

O evento dá sequência às ações iniciadas em 2008 pelo Movimento Nossa São Paulo e o Fórum Amazônia Sustentável com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a interdependência entre a preservação da floresta e a cidade.

A primeira edição do seminário foi realizada em outubro de 2008 e teve como um dos destaques a apresentação de um estudo com exemplos de práticas predatórias na pecuária bovina, no extrativismo vegetal, no plantio de soja e outros grãos na Amazônia e de como as matérias-primas chegam até o consumidor em São Paulo.

Durante sua palestra, Ignacy Sachs defendeu a valorização das cooperativas de pequenos produtores e criticou a exploração de intermediadores. Em sua opinião, para o desenvolvimento regional, é fundamental que a população local fique com uma parcela do valor agregado do que produz.

Ignacy Sachs também lembrou o papel da Amazônia também como mercado consumidor em potencial para produtos fabricados em São Paulo: “Há diversos bens e equipamentos que podem ser adaptados à realidade amazônica, facilitando muito a vida dos agricultores familiares. A tecnologia é necessária”.

Por fim, destacou a questão do transporte como fundamental para o desenvolvimento sustentável da Amazônia: “ Estamos a milhares de quilômetros da Amazônia e sempre aportamos no transporte rodoviário que, como todos sabem, é ambientalmente ruim e sociamente danoso. Temos que dar maior importância ao transporte fluvial e pensar em métodos bem diferentes”. O economista citou como exemplo os dirigíveis que, segundo ele, podem transportar pequenas cargas e são significativamente econômicos. “Temos que nos acostumar com um leque extremamente aberto de tecnologias”, concluiu.

Balanço

Durante o II Seminário Conexões Sustentáveis: São Paulo–Amazônia também foi apresentado um balanço da iniciativa que, por meio dos pactos setoriais relacionados à madeira, à pecuária e à soja, bem como pelo compromisso estabelecido com a Prefeitura de São Paulo, mobilizou as cadeias de valor desses setores em favor da erradicação do trabalho escravo e contra o desmatamento da Floresta Amazônica.

Sérgio Mauro Filho, do Instituto Socioambiental e membro do CAP (Comitê de Acompanhamento dos Pactos), explicou que durante esse primeiro ano de atuação nenhuma empresa signatária dos pactos receberá restrição ou punição. “É um momento de adaptação e, por isso, estamos ainda fazendo recomendações, orientando as empresas para que cumpram os compromissos assumidos”, explicou.

A primeira tarefa dos signatários foi a entrega de um relatório com a descrição dos processos interno e do relacionamento com fornecedores. Até agora, 24 empresas apresentaram seus relatos e todas já receberam a avaliação realizada pelo CAP. As 11 que ainda não se manifestaram podem fazê-lo até o próximo dia 30 de novembro. As recomendações finais serão feitas até 18 de dezembro e, a partir daí, relatos e avaliações serão divulgados por meio do site WWW.conexoessustentaveis.org.br. “Quem não entregou o relatório até agora está suspenso dos pactos. E os que não o apresentarem até o dia 30 serão excluídos”, alertou Sérgio Mauro.

No ano passado, o secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, representou o então candidato à reeleição Gilberto Kassab na assinatura do compromisso apresentado pelo Conexões Sustentáveis para que Prefeitura de São Paulo adote critérios sustentáveis nas compras públicas. Um ano depois, Eduardo Jorge participou do II Seminário para esclarecer sobre os procedimentos já tomados.

Apesar de o termo assinado prever a criação de um grupo de trabalho, em até 90 dias após a posse do novo prefeito, para acompanhamento dos negócios realizados pela Prefeitura, até agora esse grupo não foi formado. Questionado sobre isso, o secretário justificou que o trabalho será feito pelo mesmo comitê já criado para acompanhar a Lei de Mudanças Climáticas, aprovada em junho deste ano. O comitê é composto por representantes do poder público e da sociedade civil.

Empresas mudam de atitude após pesquisa

A pesquisa “Quem se beneficia com o desmatamento da Amazônia?”, produzida pela Papel Social e pela ONG Repórter Brasil exclusivamente para o I Seminário Conexões Sustentáveis em outubro de 2008, provocou mudanças concretas de postura em várias empresas. “A Marfrig, um dos maiores frigoríficos do Brasil, cancelou negócios com duas fazendas que, comprovadamente, contribuíam para o desmatamento da Amazônia. A JBS Friboi também cortou da lista de fornecedores uma empresa autuada pelo Ibama por atuar em área desmatada”, destacou Marques Casara, da Papel Social. Outro exemplo é de uma grande empresa brasileira do setor madeireiro, a Lácex Timber. Em 2008, a empresa comprava de um fornecedor multado nove vezes em três anos e, neste ano, além de rescindir o contrato, a Lácex Timber exigiu postura semelhante de toda a cadeia produtiva.

Reportagem: Luanda Nera – luanda@isps.org.br

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