Talita Mochiute
“Vagas em creches, pré-escolas próximas à sua moradia”; “proximidade de centros culturais”, “proximidade de bibliotecas públicas”, “proximidade de equipamentos públicos para atividades físicas”, “diminuição do tempo de atendimento para consultas” e “diminuição do tempo de deslocamento na cidade” são algumas das prioridades para a qualidade de vida e bem-estar na cidade de São Paulo (SP).
Esses resultados são da consulta pública, realizada pelo Movimento Nossa São Paulo, para a construção dos Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (IRBEM). Os dados foram divulgados na última terça-feira (17/11) durante evento no SESC Vila Mariana, na capital paulista.
Mais 36 mil questionários foram respondidos, sendo 12.707 mil por pessoas com mais 16 anos e 23.325 por crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos. Houve a participação de moradores de todas as regiões do município. O maior envolvimento ocorreu nas zonas Sul (36% dos questionários) e Leste (25%).
Os entrevistados puderam responder questões relacionadas a 23 temas, como Educação, Cultura, Esporte, Transporte e Mobilidade, Saúde, Meio Ambiente e outros. Com formato de múltipla escolha, os participantes tiveram de indicar os quatro itens mais importantes de determinada temática. Na área de Transporte, os itens mais votados, pelos adultos, foram: ampliação da rede de metrô (50%), diminuição do trânsito (42%); diminuição do tempo de espera do ônibus (41%) e diminuição do tempo de deslocamento na cidade (38%).
Para o coordenador executivo do Nossa São Paulo, Maurício Broinizi, os resultados revelam que os paulistanos dão prioridade ao transporte público e coletivo. Por outro lado, na questão aberta, em que os participantes podiam expressar livremente sua opinião, a maioria mencionou a volta do transporte fretado.
A questão da mobilidade em São Paulo também aparece em outras áreas. Dentro do tema Educação, vaga na Educação Infantil perto das residências foi a segunda mais votada (40%), ficando atrás apenas do item: existência de profissionais da educação qualificados em todas as escolas (50%).
Na área da Cultura, foram escolhidas como prioridades: a proximidade de centros culturais (32%) e de bibliotecas (29%). “Sabemos que as bibliotecas municipais ficam fechadas aos sábados à tarde e aos domingos. Em algumas subprefeituras, não há equipamentos culturais”, comentou o integrante da secretaria executiva do Movimento Nossa São Paulo, Oded Grajew.
O problema da distribuição dos equipamentos públicos pelas regiões foi sinalizado ainda na área de Esporte. 35% dos entrevistados indicaram a proximidade de equipamentos públicos para atividades esportivas, como o segundo item mais importante para qualidade de vida. O primeiro foi realizar atividade física com frequência (37%).
Na temática Juventude, o quarto item mais citado foi centros de juventudes nos bairros (36%). Os primeiros colocados foram: oportunidade ao primeiro emprego (57%), acesso ao ensino técnico, profissionalizante e universitário (52%) e informação e prevenção ao uso de drogas (38%).
Segundo Broinizi, a ideia do questionário era justamente mesclar questões relacionadas ao cotidiano dos paulistanos, verificando suas demandas e o acesso aos serviços públicos.
Indicações Infanto-Juvenis
Os resultados do questionário infanto-juvenil dialogam com da consulta aos adultos. As crianças e adolescentes apontaram como prioridades: ter bibliotecas, cinemas perto de casa (51%), ter espaços perto de casa para atividades físicas (44%); espaços culturais e da juventude (38%).
Quanto à educação, esse público elegeu como prioridade: transporte escolar gratuito (38%). “Esse dado foi uma surpresa. Esperávamos, por exemplo, uma resposta como escola legal. O resultado revela o problema do deslocamento para as crianças e os adolescentes”, explicou Broinizi.
Ao serem interrogadas sobre o transporte e a mobilidade, 39% crianças e adolescentes apontaram a questão da segurança no trânsito. Ter mais metrô (31%) ficou em segundo lugar. “Essa segurança não está relacionada com a violência, mas sim com o temor das crianças de atravessarem as ruas, de circularem pela cidade”, disse Broinizi.
Adultos e crianças priorizaram ainda a honestidade na política. Para 49% dos adultos, deve haver punição à corrupção. 30,95% dos entrevistados infanto-juvenis mencionaram políticos honestos. Os adultos (25%) também reivindicaram participação popular em conselhos das subprefeituras.
Próximos passos
A consulta pública foi o ponto de partida para elaboração do IRBEM. Neste mês, o Grupo de Trabalho (GT) de Indicadores do Movimento e o Ibope vão incorporar os itens mais citados na consulta pelos paulistanos na pesquisa anual do Nossa São Paulo. O Ibope aplicará o novo questionário em amostra proporcional aos vários segmentos da população. Em seguida, haverá a sistematização dos dados e a construção do IRBEM. A divulgação deve ocorrer em janeiro de 2010.
“Com esse processo participativo da construção dos indicadores, pretendemos com os resultados pautar o debate e gerar ações para melhoria da qualidade de vida dos paulistanos”, disse Grajew.