O Movimento Nossa São Paulo foi uma das organizações expositoras da 8ª Expo Brasil Desenvolvimento Local, realizada entre os dias 25 e 27 de novembro no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo. Argentina, Chile, Bolívia, França, Portugal, Cabo Verde e Estados Unidos estão representados no evento, que reuniu cerca de dois mil participantes entre agentes locais, gestores de políticas públicas e especialistas no tema do desenvolvimento territorial. Foram realizadas mais de 50 sessões entre palestras, painéis temáticos, oficinas e minicursos, além de uma mostra de projetos, produtos e serviços associados ao desenvolvimento local.
Segundo os organizadores do evento, a opção pela realização da edição de 2009 em São Paulo se deve à ênfase dada à questão do desenvolvimento territorial no meio urbano, tendo “Cidades Sustentáveis” como tema de destaque. Outro assunto em evidência é a “Construção de novos rumos face à atual crise sistêmica no padrão de desenvolvimento”. Tecnologias Sociais, governança democrática em bases territoriais e compromisso ambiental, tendo cultura e comunicação como dimensões transversais, também foram eixos temáticos centrais da Expo Brasil.
Na cerimônia de abertura, realizada na última quarta-feira, Caio Silveira, coordenador geral da Expo Brasil, sintetizou o objetivo do evento: "As grandes autoridades do desenvolvimento são as pessoas que arregaçam as mangas nos seus territórios. Não existe desenvolvimento sem protagonismo local". Um dos objetivos da Expo, afirmou Caio, é dar visibilidade a um Brasil ainda desconhecido pela maioria, abrindo espaço para experiências bem-sucedidas organizadas por grupos de Norte a Sul do país.
No primeiro dia do encontro, o destaque foi a participação do economista franco-polonês Ignacy Sachs. Titular há mais de 30 anos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e precursor mundial dos estudos sobre ecossocioeconomia, Sachs partiu da análise sobre as crises financeira e ambiental para cobrar novos paradigmas globais de desenvolvimento. “É preciso enfrentar simultaneamente dois grandes desafios: o climático e o imenso passivo social acumulado no mundo, como as desigualdades abissais, a fome, o desemprego”, afirmou.
Nesta quinta-feira (26), a palestra da senadora Marina Silva foi a grande atração do evento. Com o tema “Territórios sustentáveis: a transição para uma sociedade pós-carbono”, ela defendeu a tese de que a sustentabilidade precisa ser construída a partir do território, do desenvolvimento local. “É fundamental olharmos para a forma como atuamos no local em que vivemos, em que atuamos, para somente assim começarmos a reverter os processos de crise”, alertou. Marina Silva também destacou a importância da preservação da diversidade cultural do País e a necessidade de provermos meios para que as pessoas desenvolvam suas potencialidades – o que chamou de “sustentabilidade social e cultural”.
No final da tarde, o economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP e consultor da ONU, enfatizou: “Sem sistema articulado e decente de informação, não adianta falar em desenvolvimento. É prática no Brasil um prefeito assumir o mandato e pegar a mesa limpa, ter que começar do zero. Essa ruptura entre poderes é comum. O processo de desenvolvimento depende da informação entre os gestores”.
Com base na experiência de ter viajado por diversos países do mundo como consultor da ONU, Dowbor afirmou que, quando o assunto é planejamento urbano, as transformações mais significativas da sociedade ocorrem quando a população se organiza em torno de seus interesses. E, nesse sentido, destacou experiências positivas brasileiras que atuam justamente para que a população tenha acesso à informação. Uma delas é o Orbis – Observatório de Indicadores de Sustentabilidade, de Curitiba (PR), que desenvolveu uma metodologia inédita de acompanhamento das metas previstas nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio propostos pela ONU em 1990.
Ladislau Dowbor destacou também a experiência do Movimento Nossa São Paulo como exemplar na construção de indicadores técnicos associados à pesquisas de percepção: “A vantagem desses sistemas não é descobrir novos indicadores, novas técnicas. Os números muitas vezes já existem. O grande diferencial é o cruzamento de dados que, de forma inteligente, facilita a comunicação, esclarece a população, faz um verdadeiro diagnóstico das realidades locais”. E concluiu: “Quando a informação volta para a sociedade ela é apropriada e as mudanças podem começar a acontecer”.
Reportagem: Luanda Nera (luanda@isps.org.br), com informações do portal www.expobrasil.org.br