“O grande desafio de Copenhague – conversa ou ação” – Sociedade Sustentável

Beatriz Luz


08/12/2009

Já se passaram 33 anos entre o primeiro debate global sobre questões ambientais até a determinação oficial de metas e criação de plataformas globais para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

 As Nações Unidas e ambientalistas destacam o ano de 1972 como o marco inicial na discussão global sobre desenvolvimento sustentável. Em Estocolmo, na Suécia, foi realizada a primeira reunião onde líderes mundiais se encontraram para debater questões ambientais. Este foi o primeiro sinal de reconhecimento das consequências ao meio ambiente da industrialização e do crescimento econômico global.

 Entretanto, foram necessários 20 anos para que as propostas de Estocolmo fossem oficialmente analisadas e ações globais rediscutidas em um outro evento de importância internacional – Cupula da Terra, Rio 92 ou Rio Summit. Vários nomes para definir um único evento de grande importância, onde foi estabelecida a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC) –  um tratado de responsabilidade e importância internacional que entraria em vigor em março de 94, porém sem mecanismos legais.

Naquele tempo já se discutia os efeitos de um consumo exagerado e a necessidade da mudança de padrões de consumo da população e com isso um melhor gerenciamento dos recursos da Terra para que não se esgotassem. O combate ao desmatamento, à fome e à pobreza foram assuntos também discutidos e objetivos estabelecidos na Agenda 21.

Foram necessários mais 4 anos de discussão para a aprovação do Protocolo de Kyoto – acordo internacional juridicamente vinculativo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. – O protocolo determinava a reducao de 5,2% das emissões de gases de efeito estufa dos países denvolvidos até 2012 . Este foi assinado em março de 1998, porém só entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, quando da ratificação de 141 países. (este acordo só poderia entrar em vigor se fosse ratificado por pelo menos 55 países membros da Convenção, que incluam países desenvolvidos representando pelo menos 55% do total de emissões de CO2)

 Atualmente, os objetivos estabelecidos na Agenda 21 há mais de 15 anos continuam bastante atuais e, sendo assim, ainda mais críticos. Com apenas 3 anos para o cumprimento das metas do Protocolo de Kyoto, líderes globais se reunem novamente para uma análise detalhada das atividades realizadas até agora para o combate ao aquecimento global, o papel dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a elaboração de novas propostas, metas e objetivos para além de 2012.

Precisamos agir. Problemas locais não afetam mais apenas de atividades locais. A responsabilidade é de todos, a solução está em políticas globais e uma colaboração maior entre os países.

 Brasil e Grã-Bretanha – Os anos de 2007 e 2008 foram marcados pela criação de órgãos governamentais com responsabilidades específicas em relação a atividades relacionadas à mudança do clima.

O Brasil saiu na frente com a criação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2000. Esta foi uma iniciativa inédita no mundo, estabelecendo a necessidade de divulgar informações sobre o tema e envolver a sociedade civil nos processo decisórios. Em 2007 foi criado o Comite Interministerial sobre Mudança do Clima, seguido pelo Plano Nacional sobre Mudança do Clima.

Entretanto a Grã-Bretanha foi além da criação de um plano nacional e estabeleceu um acordo legal para combater os efeitos do aquecimento global – Climate Change Act 2008. Para isso, criou um departamento específico para lidar com assuntos de energia e mudanças climáticas e, como parte da nova lei, estabeleceu um comitê independente para monitorar e reportar ao parlamento o progresso feito pelo governo em relação às metas especificadas – Comitee on Climate Change (CCC). O CCC seria então responsável por determinar metas governamentais e escrever relatórios de progresso das atividades.

http://www.carbonreductioncommitment.info/carbon-reduction-commitment-timeline

Portanto, é possível vermos uma mudança de atitude independente do governo e de sua origem. A responsabilidade é de todos – O problema é um só, as consequências serão globais.

Construção eficiente – É  mais fácil e mais barato obter eficiência na fase de elaboração do projeto do que ajustar as coisas depois da sua construção. Assim, gostaria de realçar a importância do planejamento estratégico e da inovação para garantir uma construção eficiente e com menos impacto ambiental

É preciso planejar corretamente utilizando os materiais adequados, equipamentos eficientes para utilização de água e energia, sensores para evitar o desperdício considerando a utilização de novas tecnologias, energias renovaveis e reutilização de materiais.

São os chamamos “mecanismos de custo negativo” para redução das emissões, pois estamos na verdade deixando de emitir, reduzindo o impacto sobre o meio ambiente.

 Muitas vezes, as novas práticas e tecnologias não são implementadas devido ao seu custo elevado. Porém, é um custo necessário para a nova realidade que vivemos e a redução do impacto ambiental.

 Nicholas Sterm, economista inglês, na sua análise financeira sobre o combate ao aquecimento global demonstrou claramente que o custo para o financiamento das novas práticas e tecnologia é significativamente menor, comparado ao custo de mitigação.

 Seguindo as condições usuais de produção e consumo, no ingles “business as usual”, veremos um crescimento da poluição, mais lixo sendo gerado, destruição da biodiversidade e das florestas. Mas, se investirmos agora, teremos um futuro muito mais limpo, tranquilo, mantendo nossas florestas, bioviversidade e os recursos naturais.

 É possível ver o benefício a longo prazo do investimento. No entanto, estas externalidades são raramente consideradas ou quantificadas no balanço financeiro do investimento. O que demonstra a necessidade da criação de políticas de incentivos que direcionem os investimentos de forma a contribuir a um desenvolvimento sustentável e de baixa emissão.

O grande desafio é a determinação das responsabilidades quanto ao investimento local  para a geração de benefícios globais. A discussão gira em torno da responsabilidade e obrigações vinculadas aos países desenvolvidos e aos em desenvolvimento.

O combate ao aquecimento global é possível, mas requer uma ação coletiva. É fácil escolher o futuro que nós queremos para nós e para as futuras gerações.

O problema é global e complexo, sendo assim colaboração e uma visão de longo prazo se fazem necessárias nesta hora. Além de um intercâmbio de conhecimento entre as nações, transferência de recursos, através de mecanismos financeiros e políticas internacionais de incentivos.

E é isso que esperamos dos líderes mundiais nesta semana de discussões em Copenhague. Ações práticas e decisões concretas, não apenas mais um debate global.
 

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