Secretaria Estadual de Meio Ambiente divulga estudo que aponta como o estado será daqui a onze anos
Giulianna Bergamo
Revista Veja São Paulo – 26/12/2009
Em onze anos, a população do litoral paulista deve crescer 25%. A faixa verde que margeia a areia poderá ser substituída por um amontoado acinzentado de casas. Em busca de segurança, moradores da capital tendem a mudar-se para bairros e condomínios periféricos, como Alphaville. Com isso, aumentará a distância percorrida para chegar ao trabalho, o que agravará o problema do trânsito. No time das notícias boas, quase a totalidade dos domicílios terá esgoto coletado e tratado, enquanto, no interior, diminuirá o desmatamento e coberturas vegetais, como as matas ciliares, serão parcialmente recuperadas.
Essas são algumas das conclusões do estudo ‘Cenários 2020’, organizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que o divulgou na última semana. A ideia era tentar prever em que condições estará São Paulo – bem como o que pode e deve ser feito para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. O estudo apresenta três possíveis panoramas, elaborados com grupos e metodologias diferentes.
A situação número 1, chamada na pesquisa de cenário-referência, conta com previsões montadas com base em um questionário. Um grupo de 5 200 pessoas (82% delas com nível superior) respondeu a 28 perguntas sobre temas como planejamento, desenvolvimento urbano e ecologia. Após ler sobre um possível cenário, o participante apontava qual a probabilidade de aquele futuro se concretizar.
Em seguida, classificava a importância que devia ser dada ao assunto e indicava, numa escala de 1 a 9, quanto conhecia sobre ele. As respostas foram cruzadas num software que aplicava valores a cada entrevistado – quem afirmasse saber mais sobre determinada questão, por exemplo, teria peso maior. Esse primeiro panorama apenas prevê como o estado será caso, além das políticas públicas atuais, nada de novo seja implementado.
Uma São Paulo utópica vem à tona nos resultados colhidos na situação número 2. Batizada de cenário ideal, foi construída com base na consulta a 120 especialistas em meio ambiente. Eles foram convidados a dizer qual seria o melhor dos mundos para o estado. Assim, a zona costeira aparece nessa etapa do estudo como um paraíso verdinho, em que nenhum imóvel despejaria esgoto nos rios e mares. A população disporia de abundantes e eficientes meios de transporte coletivo e os caminhões seriam minoria.
O terceiro e último panorama é o que pode ser chamado, grosso modo, de meio-termo: mostra como São Paulo pode ficar se algumas atitudes forem tomadas.’Analisamos as condições atuais, os dois outros cenários e traçamos metas e planos que devem ser aplicados nos próximos anos a fim de melhorar nossas condições ambientais’, diz Casemiro Tércio Carvalho, coordenador do estudo. Para o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano, o próximo passo é garantir que as propostas apresentadas no trabalho sejam realmente colocadas em prática. ‘Precisamos, agora, assegurar que as metas também estejam no planejamento de outras áreas de governo’, diz Graziano.
Entre as propostas está a elaboração de leis que prevejam o melhor aproveitamento da água nas atividades econômicas, como a indústria e a agricultura, além do incentivo a meios de transporte de cargas que substituam o caminhão, como os ferroviários, hidroviários e dutoviários. Com medidas assim, a previsão é que não haja disputa por água ou que no máximo 65% da carga trafegue por rodovias (hoje, 92% dos carregamentos viajam dessa forma).