Volume das chuvas não é a única justificativa para o problema, pois meses mais secos também tiveram casos
Bruno Paes Manso e Daniel Jelin do estadao.com.br
Em ano de muita chuva, a quantidade de ocorrências de alagamento pelas ruas de São Paulo no ano passado foi a maior registrada desde 2004, quando o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) começou a apontar os casos na capital. De acordo com levantamento feito pelo Portal Estadão, foram 1.422 ocorrências de alagamento em todo ano que passou, número 62% acima do registrado em 2008 e 13% maior do que o total de 2005, segundo ano com a maior quantidade de registros de alagamentos.
Foi a primeira vez nos últimos seis anos que São Paulo sofreu com alagamentos em todos os meses do ano, inclusive nos mais secos, como junho, julho e agosto. Os pontos de alagamentos servem como indicadores de, entre outra coisas, problemas relacionados à drenagem dos rios que cortam a cidade.
A quantidade de chuva ao longo do ano passado, que teve o 5º maior índice pluviométrico desde 1943, ano em que Instituto de Meteorologia (Inmet) começou a fazer os registros, é um dos fatores que ajudaram a aumentar os transtornos nas ruas. Choveu 2.017,3 mililitros, valor 21% maior do que a chuva do ano anterior.
Mas essa explicação, a do volume, não pode ser apontada como única justificativa. Em 2006, quando foi registrado o 6º maior índice pluviométrico da série de chuvas em São Paulo, a cidade teve menos ocorrências de alagamentos do que nos dois anos anteriores, menos chuvosos. Foi também em 2006 o primeiro ano em que a obra de aprofundamento da calha do Rio Tietê foi colocada à prova, o que ajudou a diminuir os danos pelas ruas. "A cidade cresceu muito nos últimos anos e se impermeabilizou. A estrutura das galerias e canais que formam as diversas bacias da capital precisam ser reformadas e repensadas. É o que estamos fazendo", afirma o secretário adjunto da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), Marcos Rodrigues Penido.
ESTRUTURA
O Estado mostrou ao secretário 30 cruzamentos, ruas e avenidas da capital que aparecem com mais frequência nos registros de alagamentos do CGE. É o caso, por exemplo, da Avenida Aricanduva com a Rua Baqueá, zona leste; da região da Praça das Bandeiras, centro; Avenida Pompeia com Rua Turiaçu, zona oeste; Avenida Roque Petroni Jr. com Avenida Santo Amaro, zona sul; Avenida Olavo Fontoura, zona norte; e Avenida Ricardo Jafet com Viaduto Saioá, zona sudoeste.
Pelo menos em 23 dos 30 pontos onde os registros de alagamentos são mais recorrentes, a causa está relacionada à falta de infraestrutura adequada para conter as águas das diferentes bacias hidrográficas de afluentes do Rio Tietê que agem nessas regiões, segundo análise da Siurb.
Somente dois pontos avaliados pela Secretaria enchem em decorrência da falta de manutenção, como limpezas de córregos e de bocas de lobo. "A solução é intervir nessas bacias, estudando cada caso separadamente. Podem ser piscinões para armazenar as águas e evitar que cheguem em volumes elevados aos rios mais baixos ou fazer parques lineares para diminuir a impermeabilização do solo", diz Penido. A Prefeitura afirma que já está intervindo em 9 das 26 principais bacias dos Rios Pinheiros e Tietê.
TERROR
Além de apontar problemas de drenagem, no dia a dia da capital, os pontos de alagamento aterrorizam motoristas. A cineasta Amanda de Stefani, de 25 anos, que trabalha na Avenida Mofarrej, na Vila Leopoldina, foi uma entre tantas vítimas surpreendida pelas chuvas.
No dia 8 de setembro, ela saiu de casa às 8 horas e estacionou em frente ao escritório. A chuva caiu forte. Ao meio-dia, quando foi almoçar, soube que a água estava na porta do carro. Tentou tirar o Peugeot da rua, mas o nível da água tornou a missão impossível. "Consegui sair às 23 horas, depois de ser resgatada num bote dos bombeiros. Quando trabalhei na região a primeira vez, o problema já existia. Ainda não foi resolvido", diz.
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