MAIARA CAMARGO, maiara.camargo@grupoestado.com.br
Em pelo menos dois bairros da cidade os “sem-cinema” poderão pôr fim ao seu drama. Moradores da Vila Socorro, na região sul, e do Limão, na zona norte, vão ganhar neste ano dois novos complexos cinematográficos, com um total de 3.500 lugares. A longo prazo, mais gente deve sair desse deserto cultural no País. O Ministério da Cultura quer triplicar a quantidade de salas no Brasil por meio de dois programas – um voltado a prefeituras, e outro, de linha de crédito para a iniciativa privada, que deve ser lançado em março.
Maior rede de cinemas da América Latina, a mexicana Cinépolis vai abrir na Vila Socorro, em maio, seu primeiro complexo brasileiro. Serão nove salas equipadas com som digital, uma delas com tecnologia 3D, totalizando mais de 2.000 lugares. O investimento no projeto é de R$ 15 milhões.
Para o superintendente do Shopping Fiesta, Davi Bergamin, o diferencial da empresa é o atendimento. “A Cinépolis trabalha com um número maior de funcionários, opções mais elaboradas de alimentação, como comida japonesa, além de poltronas maiores e reclináveis. Nosso contrato com a rede é de dez anos.” O grupo deve abrir outros cinco complexos cinematográficos, todos na periferia de São Paulo.
A sociedade do Carrefour com a Inovação Cinemas vai dar origem inicialmente a dois cinemas: um no Limão, e outro no Rio de Janeiro, com cerca de 1.500 poltronas cada. A empresa ainda não informa quantas salas serão abertas na zona norte, mas adianta que elas terão formato stadium – com fileira de cima mais alta que a de baixo -, projetores 35mm de última geração e projeção digital. “O objetivo é oferecer opções de diversão em nossos hipermercados”, diz o diretor de galerias do Carrefour Eduardo Maculan. Este é o início de um projeto ainda maior, que prevê a abertura de 200 salas em todo o País.
No que depender da Ancine (Agência Nacional de Cinema), esse número será ampliado. O órgão divulgou em novembro o projeto Cinema da Cidade, que em parceria com as prefeituras permite a construção ou reabertura de salas em cidades do interior, com população entre 20 mil e 100 mil habitantes. Grandes cidades ainda podem ser beneficiadas por um novo programa, o Cinema Perto de Você, que está em estudo. Aqui, a ideia é oferecer financiamento para empresários que queiram abrir unidades em bairros mais afastados, com foco na classe C (com renda familiar entre R$1.115 e R$ 4.807, segundo o governo federal).
Segundo o ministro da Cultura Juca Ferreira, a ideia dos programas é triplicar a quantidade de salas no País. “A proporção entre o número de salas no Brasil e o número de habitantes é muito desfavorável. Os complexos fora dos shoppings podem oferecer preços mais baixos e, no futuro, atrair a parcela da população que recebe o vale-cultura.” No momento, o projeto de lei que cria o vale-cultura aguarda votação na Câmara dos Deputados, de onde deve seguir para sanção presidencial em fevereiro. O vale consiste em um benefício de R$50 concedido a pessoas que ganham até cinco salários-mínimos, exclusivamente para consumir cultura. A ideia do ministro é incentivar esse público a assistir a longas nacionais. “Mas os filmes estrangeiros (exibidos) serão os mesmos das outras salas.”
Atualmente, o Brasil possui 2.200 salas, contra as mais de 3.200 nos anos 70. Dois terços dos cinemas estão em cidades de mais de 300 mil habitantes, com destaque para o Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2009, o País ganhou 37 novos complexos exibidores, dos quais 12 estão localizados em São Paulo.
JÁ EM CARTAZ
DOIS PROJETOS EM ATIVIDADE EXIBEM FILMES NACIONAIS PARA DIFERENTES PÚBLICOS. DE GRAÇA
O Cine Tela Brasil é uma sala itinerante que exibe curtas e longas brasileiros para públicos que não têm acesso ao cinema.
O projeto, idealizado pela cineasta Laís Bodanzky, visita neste mês Mogi das Cruzes e SP. www.cinetelabrasil.com.br
O projeto da Prefeitura Cine Clube Escola exibirá, a partir de fevereiro, filmes em 20 escolas. As sessões serão realizadas duas vezes por semana. O número de lugares varia com a sala, podendo chegar a 2 mil, no caso de ginásios. www.capital.sp.gov.br