“Área onde mais chove tem mais concreto” – Folha de S.Paulo

 

Zona leste, região de São Paulo que teve mais chuvas no ano passado, está entre as áreas mais impermeáveis da cidade

Grande quantidade de asfalto e pouco verde formam "ilhas de calor", que, aliadas a fator geográfico, facilitam tempestades

TALITA BEDINELLI
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A zona leste foi a região de São Paulo onde mais choveu no ano passado. Ela teve, em média, 22% mais chuvas do que a zona norte, onde menos choveu. A área também está entre as que têm mais concreto da cidade, fator que contribui não só para a formação de tempestades, mas para as enchentes.

A Folha cruzou um ranking elaborado pelo CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) a pedido da reportagem, que tem como base as medições feitas em 2009 em 29 pluviômetros (medidores de chuva) espalhados pela cidade, com um levantamento da secretaria do Verde e Meio Ambiente paulistana e de pesquisadores da USP, que mede a taxa de impermeabilização nos distritos de São Paulo.

Das dez áreas mais chuvosas, cinco estão na zona leste. A primeira colocada é a subprefeitura do Itaim Paulista, cujos distritos (Itaim Paulista e Vila Curuçá) apresentam uma das maiores "taxas de concreto": entre 65% e 75% da área é impermeabilizada. São Miguel Paulista, onde fica o Jardim Pantanal, símbolo dos alagamentos deste verão na cidade, é ainda mais impermeável (entre 75% e 84%) e também está entre as cinco onde mais choveu.

Das dez primeiras no ranking da chuva, sete também estão na lista das que apresentam taxa de impermeabilização superior à 65%: além do Itaim Paulista, as áreas das subprefeituras de Guaianases, Cidade Tiradentes e Vila Prudente (todas na zona leste), da subprefeitura do Butantã (zona oeste) e dos distritos do centro, Consolação e Bom Retiro (únicos que têm pluviômetros fora da subprefeitura).

Tempestades
A alta impermeabilização, formada por muito concreto e pouco verde, ajuda a formar as tempestades típicas de verão, explica Adilson Nazário, meteorologista do CGE. "A grande concentração de imóveis, muito asfalto, excesso de carro, falta de vegetação formam em São Paulo as ilhas de calor", diz. "Isso eleva a temperatura da região e, quando há o encontro com um ar mais frio, ocorrem chuvas intensas".

Esse ar mais frio também penetra com mais facilidade na zona leste por uma questão geográfica, diz ele. "Na faixa Leste do Estado a Serra do Mar é mais baixa, o que facilita a infiltração da brisa marítima, um ar mais úmido que vem do oceano. Quando a brisa encontra regiões com o ar quente, como as "ilhas de calor" forma nuvens carregadas e provoca as chuvas fortes.

"As tempestades provocadas por aquecimento, como essas, têm uma duração pequena e muita intensidade, com uma abrangência geográfica menor", diz Nazário.

Como esses temporais de verão começam com mais frequência e maior intensidade na zona leste, as outras regiões da cidade acabam recebendo menor quantidade de água.

Menos verde
A grande quantidade de asfalto e a falta de áreas verdes também ajudam a explicar porque o centro foi a segunda região mais chuvosa. É lá que se concentra a menor quantidade de áreas verdes de São Paulo, segundo os dados de 2008 da prefeitura, os mais recentes.

Segundo o levantamento da USP, o distrito do Brás é o campeão de impermeabilização: 84,3% é formado por concreto.
Com menos chuvas, a zona norte tem a maior quantidade de parques e praças da cidade.

Apesar de os dados de 2009 mostrarem que a zona leste teve um volume de chuvas maior, isso não significa que todas as subprefeituras da região sempre têm mais tempestades.

Neste mês, por exemplo, a Vila Maria, que fica justamente na zona norte, foi onde mais choveu. "Mas essa área está entre a leste e o centro", diz Nazário. Cidade Tiradentes (na zona leste) e Consolação (na região central) vieram em seguida.

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