No ano passado, não houve nenhum homicídio múltiplo na região. Último ocorreu em 2008
MARCELO GODOY e BRUNO PAES MANSO
O ano de 2009 acabou sem que a zona sul de São Paulo registrasse uma única chacina. A região que nas últimas duas décadas liderou as estatísticas de mortes na cidade foi a única onde não houve homicídios múltiplos. Até mesmo o centro contou um caso, ocorrido no Cambuci, em 14 de março, quando três pessoas foram assassinadas. No auge dos homicídios em São Paulo, no primeiro semestre de 2000, a zona sul concentrou 12 dos 28 crimes naquele período.
A última chacina na região deixou três vítimas no dia 24 de setembro de 2008, no Capão Redondo. O caso foi esclarecido pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que identificou três policiais militares, indiciados e acusados pelo crime, que teve como motivo o tráfico de drogas. Dos 12 casos esclarecidos em 2009, metade foi motivado por tráfico e o resto, vingança.
Desde setembro de 2008, aconteceram 14 chacinas – 3 nos últimos dois meses de 2008 e 11 no ano passado. Os bandidos mataram três ou mais pessoas de uma vez só em nove bairros, como Perus (zona norte), Itaquera (zona leste) e Brasilândia (zona norte). O recorde foi no Jaçanã (zona norte), com quatro casos – 2 em 2008 e 2 em 2009. Em três, os autores foram PMs – dois foram presos.
Enquanto isso, bairros da zona sul famosos pela violência, como o Parque Santo Antônio, Parelheiros, Pedreira ou Campo Limpo, passaram ilesos. Para o DHPP, a falta de chacinas na zona sul se insere no contexto de diminuição de até 70% nos homicídios ocorrida desde 1999 na cidade. “Hoje, os casos se distribuem mais pela zonas leste, norte e oeste. A zona sul realmente quase não dá mais problema”, afirma o delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira, da delegacia que investiga chacinas.
Apesar da queda a partir dos anos 2000, os casos de homicídios múltiplos migraram dentro dos limites da cidade e serviram como termômetro da realidade criminal em diferentes bairros. Em 2007, o sinal de alerta acendeu na zona norte. Dos 11 casos registrados naquele ano, 8 ocorreram na região – 26 mortos. Pelo menos três tiveram participação de PMs.
A situação se agravou em janeiro de 2008, com o assassinato do coronel José Hermínio Rodrigues, que comandava o policiamento na região e investigava o envolvimento de policiais do 18º Batalhão da PM com grupos de extermínio e caça-níqueis. A arma que matou o coronel foi a mesma usada em três chacinas – uma causou a morte de seis pessoas no Jardim Eliza Maria, zona norte. Um soldado do 18º BPM foi indiciado, suspeito de matar 17 pessoas.
São Paulo chegou a registrar 53 chacinas em 2000 (recorde). Desde então, foi criada uma equipe específica para investigar o crime. O índice de esclarecimento desse tipo de crime em 2001 chegou a 93% dos casos e se manteve até 2005, quando o número de chacinas já havia caído para 15. O DHPP passou a investigar chacinas em outras cidades da Grande SP – 11 casos em 2008 e 9 em 2009. No total, 68 pessoas morreram nas chacinas do ano passado no Estado, 34 na capital.
Leia também: "Organização do tráfico e prisões são motivos" – Jornal da Tarde